Muitas imagens da arquitectura foram «iconoteologia». Many images of ancient and traditional architecture were «iconotheological». This blog is to explain its origin.
22.9.23

Na tão desafiante questão de "As Origens do Gótico" que nos foi colocada em 2001-02, estava, naturalmente incluída a origem da Ogiva.

No entanto, quando se escreveu a tese (a propósito de Monserrate) - e lembro-me muito bem do que ficou escrito, vindo de um autor inglês, mencionando as diagonais no tecto - , não tínhamos ainda, como depois passámos a ter 2 «conceitos» que são essenciais para se poder avançar na compreensão do estilo medieval (*):

1. Os desenhos do Tratado de Hugo de S. Victor, mostram bem a intenção, mística, de que cada pedra fosse uma progressão do olhar: desde os capitéis, ou talvez mesmo ainda desde as bases das colunas**, até ao cimo (a que se pode chamar Auge) Ver imagem em post nosso (recente)

2. A palavra Augive - Proveniente do verbo Augere que significa elevar

Depois, e embora estando nós (em 2004) a «soltarmo-nos», crescentemente, do que tínhamos aprendido, e da maneira como tínhamos sido ensinados, ainda então nos parecia, que uma das questões dominantes - implicada na evolução arquitectónica a que o estilo gótico corresponde; parecia-nos dizemos, que os progressos, ou a evolução feita - do romano, passando pelo românico, para o gótico -, era principal, ou exclusivamente, uma progressão de ordem técnica ***.   

Sim, parecia-nos! Ainda, é verdade...

Pois não estávamos convictos, como agora estamos, de que foram razões relacionadas com as formas e as imagens, que eram significantes, que deveriam ficar plasmadas, ou "built-in" nas edificações (já que a arquitectura foi uma linguagem). Na verdade, é cada vez mais lógico, que tenham sido as formas e as imagens que eram significantes, que empurraram para a evolução que existiu, e que hoje se pode analisar...

E poderíamos ficar aqui, a tentar explicar com bastante mais detalhe, o que nos parece ter sucedido. Sobretudo, como se fez o encontro entre as motivações visuais e as técnicas. Ou seja, como a técnica, então designada Ars  (arte, habilidade, ou até engenho), serviu  objectivos que foram de ordem visual

Poderíamos sim! Mas, que nos desculpem!

Não é este o local próprio - onde todos nos movemos rápida e euforicamente, a saltitar de superficialidade em superficialidade. Não é, e não deve ser para aqui chamado, todo o esforço e trabalho que essas explicações exigem. 

Portanto, e como de costume - porque o que todos preferem são os «bonecos» (dada a sua capacidade de comunicação e transmissaõ de ideias, que é quase imediata); assim, muito mais fácil é mostrar apenas que a Cruz em Aspa, que foi sinónima da Mandorla, e a qual muitos designarão como imagem ou detalhe simbólico (?), essa imagem está abaixo.

É para nós muito evidente, está em 2 fotografias (e respectivas ampliações):  

Primeiro a Cruz em Aspa no colar com que o Rei D. Manuel I quis ser retratado.

D.ManuelI-retrato-cruzEmAspa-2.jpg

Foto vinda da wikipedia

D.ManuelI-retrato-cruzEmAspa-3.jpgD.ManuelI-retrato-cruzEmAspa-4.jpg

Devendo perguntar-se, se este «colar honorífico» existiu de facto? Ou se foi o pintor que o colocou no rei? Para desse modo traduzir e tornar explícita - clara e notória - a sua condição régia? Porque, provavelmente, e esta é sem qualquer dúvida uma forma heráldica, também esta forma pode ter sido do rei e dos nobres, exclusiva, como é o que em francês se diz  - "droit régalien"? 

 

Na segunda fotografia a mesma forma heráldica, religiosa e significante, está num tecto do Mosteiro da Batalha. 

mosteiro-batalha-tecto.jpg

Imagem vinda de A Arquitectura Gótica em Portugal, por Mário T. Chicó, Livros Horizonte, Lisboa 1981. 

Na ampliação, seguinte desenhou-se a Cruz em Aspa  inserida num rectângulo, como é frequente aparecer, incluindo na "Union jack flag"    Que é talvez, actualmente, a imagem mais divulgada da Cruz em Aspa . Quem sabe a que todos conhecem, e da qual dizemos ser sinónima da Mandorla mosteiro-batalha-tecto-3.jpg

mosteiro-batalha-tecto-4.jpg

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* Embora possamos perguntar se já se captou tudo, ou aquilo que ainda pode faltar para compreender, é ainda muito... ?

** Porque a partir de certa altura estamos perante um todo que é um "sistema de nervos" na designação de Viollet-Le-Duc . No Tome IX do seu Le Dictionnaire d' architecture, Viollet-Le-Duc percorre a história e evolução das abóbadas desde os romanos até ao seculo XVI, introduzindo até no seu texto um excerto de Philibert de l'Orme, que se referia às abóbadas como "mode françoise". Note-se que não consultámos directamente Le Dictionnaire d' architecture, de Viollet-Le-Duc, mas sim extractos - em Relevés et observations - par Philippe Boudon et Philippe Deshayes, Pierre Mardaga, ed., Bruxelles 1995, (Ver aqui ISBN 13 : 9782870091159) 

*** Que obviamente leva àquela visão da História designada teleológica. Como se os romanos tivessem sido uns incapazes, quando fizeram as primeiras abóbadas... «Incapazes», dizemos nós para criticar a ideia de que a Arte através dos séculos (desde o século IV ao XII-XIII, e por diante...) tivesse por objectivo atingir, um dia (no futuro), aquilo que é o Estilo Gótico. Claro que a Arte foi sujeito passivo, e quando existe (se chega a existir?) é como resultado da habilidade dos homens: dos que conseguiram ser verdadeiros artistas!

Até agora, por aqui, interessa-nos continuar a lembrar que um assunto que é interessantíssimo e da maior importância científica nos tenha valido a expulsão da Faculdade de Letras, e o desinteresse máximo da FBA da Universidade de Lisboa

link do postPor primaluce, às 14:00  comentar

 
Primaluce: Uma Nova História da Arquitectura
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