Na tão desafiante questão de "As Origens do Gótico" que nos foi colocada em 2001-02, estava, naturalmente incluída a origem da Ogiva.
No entanto, quando se escreveu a tese (a propósito de Monserrate) - e lembro-me muito bem do que ficou escrito, vindo de um autor inglês, mencionando as diagonais no tecto - , não tínhamos ainda, como depois passámos a ter 2 «conceitos» que são essenciais para se poder avançar na compreensão do estilo medieval (*):
1. Os desenhos do Tratado de Hugo de S. Victor, mostram bem a intenção, mística, de que cada pedra fosse uma progressão do olhar: desde os capitéis, ou talvez mesmo ainda desde as bases das colunas**, até ao cimo (a que se pode chamar Auge) Ver imagem em post nosso (recente)
2. A palavra Augive - Proveniente do verbo Augere que significa elevar
Depois, e embora estando nós (em 2004) a «soltarmo-nos», crescentemente, do que tínhamos aprendido, e da maneira como tínhamos sido ensinados, ainda então nos parecia, que uma das questões dominantes - implicada na evolução arquitectónica a que o estilo gótico corresponde; parecia-nos dizemos, que os progressos, ou a evolução feita - do romano, passando pelo românico, para o gótico -, era principal, ou exclusivamente, uma progressão de ordem técnica ***.
Sim, parecia-nos! Ainda, é verdade...
Pois não estávamos convictos, como agora estamos, de que foram razões relacionadas com as formas e as imagens, que eram significantes, que deveriam ficar plasmadas, ou "built-in" nas edificações (já que a arquitectura foi uma linguagem). Na verdade, é cada vez mais lógico, que tenham sido as formas e as imagens que eram significantes, que empurraram para a evolução que existiu, e que hoje se pode analisar...
E poderíamos ficar aqui, a tentar explicar com bastante mais detalhe, o que nos parece ter sucedido. Sobretudo, como se fez o encontro entre as motivações visuais e as técnicas. Ou seja, como a técnica, então designada Ars (arte, habilidade, ou até engenho), serviu objectivos que foram de ordem visual.
Poderíamos sim! Mas, que nos desculpem!
Não é este o local próprio - onde todos nos movemos rápida e euforicamente, a saltitar de superficialidade em superficialidade. Não é, e não deve ser para aqui chamado, todo o esforço e trabalho que essas explicações exigem.
Portanto, e como de costume - porque o que todos preferem são os «bonecos» (dada a sua capacidade de comunicação e transmissaõ de ideias, que é quase imediata); assim, muito mais fácil é mostrar apenas que a Cruz em Aspa, que foi sinónima da Mandorla, e a qual muitos designarão como imagem ou detalhe simbólico (?), essa imagem está abaixo.
É para nós muito evidente, está em 2 fotografias (e respectivas ampliações):
Primeiro a Cruz em Aspa no colar com que o Rei D. Manuel I quis ser retratado.
Foto vinda da wikipedia
Devendo perguntar-se, se este «colar honorífico» existiu de facto? Ou se foi o pintor que o colocou no rei? Para desse modo traduzir e tornar explícita - clara e notória - a sua condição régia? Porque, provavelmente, e esta é sem qualquer dúvida uma forma heráldica, também esta forma pode ter sido do rei e dos nobres, exclusiva, como é o que em francês se diz - "droit régalien"?
Na segunda fotografia a mesma forma heráldica, religiosa e significante, está num tecto do Mosteiro da Batalha.
Imagem vinda de A Arquitectura Gótica em Portugal, por Mário T. Chicó, Livros Horizonte, Lisboa 1981.
Na ampliação, seguinte desenhou-se a Cruz em Aspa inserida num rectângulo, como é frequente aparecer, incluindo na "Union jack flag" Que é talvez, actualmente, a imagem mais divulgada da Cruz em Aspa . Quem sabe a que todos conhecem, e da qual dizemos ser sinónima da Mandorla
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* Embora possamos perguntar se já se captou tudo, ou aquilo que ainda pode faltar para compreender, é ainda muito... ?
** Porque a partir de certa altura estamos perante um todo que é um "sistema de nervos" na designação de Viollet-Le-Duc . No Tome IX do seu Le Dictionnaire d' architecture, Viollet-Le-Duc percorre a história e evolução das abóbadas desde os romanos até ao seculo XVI, introduzindo até no seu texto um excerto de Philibert de l'Orme, que se referia às abóbadas como "mode françoise". Note-se que não consultámos directamente Le Dictionnaire d' architecture, de Viollet-Le-Duc, mas sim extractos - em Relevés et observations - par Philippe Boudon et Philippe Deshayes, Pierre Mardaga, ed., Bruxelles 1995, (Ver aqui ISBN 13 : 9782870091159)
*** Que obviamente leva àquela visão da História designada teleológica. Como se os romanos tivessem sido uns incapazes, quando fizeram as primeiras abóbadas... «Incapazes», dizemos nós para criticar a ideia de que a Arte através dos séculos (desde o século IV ao XII-XIII, e por diante...) tivesse por objectivo atingir, um dia (no futuro), aquilo que é o Estilo Gótico. Claro que a Arte foi sujeito passivo, e quando existe (se chega a existir?) é como resultado da habilidade dos homens: dos que conseguiram ser verdadeiros artistas!
Até agora, por aqui, interessa-nos continuar a lembrar que um assunto que é interessantíssimo e da maior importância científica nos tenha valido a expulsão da Faculdade de Letras, e o desinteresse máximo da FBA da Universidade de Lisboa
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