ESTUDEI o melhor que pude esta questão teológica que esteve na origem do Estilo Gótico.
Comecei, praticamente, por um livro de António Quadros; passei depois a João Pinharanda Gomes e à Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura. Li muitíssimo mais sobre este assunto, até ter percebido que já não iria adiantar nada, se continuasse a le.... Pois seria sempre impossível abarcar tudo o que existe sobre este imenso assunto.
Mas uma das (minhas) melhores definições está num artigo da Enciclopédia Católica, conhecida como New Advent Encyclopedia.
Quase no fim do artigo consta um comentário que já não é Teologia, mas que é da ordem da HISTÓRIA, e relativo ao que, supomos (pois completamente aplicável), se passou na Península ibérica:
"It is a matter for surprise that so abstract a subject as the doctrine of the double Procession of the Holy Ghost should have appealed to the imagination of the multitude. But their national feelings had been aroused by the desire of liberation from the rule of the ancient rival of Constantinople; the occasion of lawfully obtaining their desire appeared to present itself in the addition of Filioque to the Creed of Constantinople. Had not Rome overstepped her rights by disobeying the injunction of the Third Council, of Ephesus (431), and of the Fourth, of Chalcedon (451)? (...)"
É verdade que não se diz acima que a "multitude" cuja imaginação foi «interpelada» pelas querelas era, exclusivamente, a de Toledo...
De facto, isso já somos nós que dizemos, quando sabemos o que se passou em Toledo, e o que significa a palavra imaginação.
Isto é, referimo-nos a "the imagination" exactamente aquela que acima está citada*; assim como, também o sabemos, aquilo que André Grabar escreveu sobre este assunto.
Ou seja, o "atrevimento" (hardiesse) que esse autor sentiu no comportamento dos Godos.
E aqui, com toda a franqueza, acredito que os leitores não tenham alguma noção - a mínima - do imenso prazer que este tema nos traz?
Por vermos como André Grabar esteve tão perto, tão perto - mas tão perto mesmo! - e não vislumbrou a solução do enigma (sobre as Origens do Gótico), que, mais do que todos, foi ele que o teve nas mãos e o deixou escapar...
Talvez antes dele, apenas o polimath que foi Caramuel Lobkowitz? O autor que no século XVII explicou a origem do Arco Quebrado, característico do estilo Gótico?
Mas no texto acima, ainda a frase "...so abstract a subject as the doctrine of the double Procession..." foi-nos (absolutamente) fundamental. Por ter lembrado que sempre que um assunto é abstracto, normalmente fazemos algum, ou alguns, esquema(s). Para nos ajudarem a exprimir ou a fazer fluir (como faz um dataflow diagram) o pensamento e as ideias.
Para terminar, ainda da New Advent Encyclopedia, aqui fica o último parágrafo:
"It is true that these councils had forbidden to introduce another faith or another Creed, and had imposed the penalty of deposition on bishops and clerics, and of excommunication on monks and laymen for transgressing this law; but the councils had not forbidden to explain the same faith or to propose the same Creed in a clearer way. Besides, the conciliar decrees affected individual transgressors, as is plain from the sanction added; they did not bind the Church as a body. Finally, the Councils of Lyons and Florence did not require the Greeks to insert the Filioque into the Creed, but only to accept the Catholic doctrine of the double Procession of the Holy Ghost."
Que o digam os leitores? Que o traduzam com rigor...
Porque para nós estes dois últimos parágrafos também levam a pensar que, quem escreveu este artigo da New Advent Encyclopedia, provavelmente sabe aquilo que, em teimosia e persistência, quase sem fim, nós tentámos confirmar nalgum autor.
Porque queríamos encontrar a frase escrita por alguém, em vez de - face ao método actual de investigar e de produzir conhecimento - chegar lá por dedução.
Só que, acontece que as imagens proliferam, com mais secura, ou, geralmente, mais «decoradas»: acima a fotografia de um pavimento de Conímbriga, em baixo esquemas nossos.
Sendo que o primeiro esquema é o que está no meio do tapete de mosaicos de Conímbriga (ver acima), e o segundo correspondeu à evolução desse mesmo esquema. Feito para traduzir - o melhor possível - o significado de "dupla procedência do Espírito Santo". Uma "dupla procedência do Espírito Santo" (acrescentamos hoje - 16.01.2019) que é enfaticamente simultânea e que por isso obriga a que os dois círculos não possam manter-se separados e individualizados, devendo ser sobrepostos**. Ou ainda, por exemplo representados por um Y - como há dias (e mais uma vez) mostrámos.
Já agora..., aproveitem e vejam também o post anterior.
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*Uma definição - a de Imaginação - que devia ser bem explicada nas escolas de Design. Porque Imaginação não é, por exemplo, um fantasiar gratuito, mas sim um desenhar mentalmente (em acto que pode ser voluntário, ou não) aquilo em que se pensa. Por exemplo, muitas palavras, mas também frases, «apelam» de imediato à imaginação, quando logo que são ouvidas, automático e «mentalmente» pensamos numa imagem.
** Esta é a nossa visão e explicação, mas talvez todos os que se exprimem usando esquemas e doodles, estejam também de acordo com ela?