Está no título do nosso post anterior, e é um articulado de palavras que de certo modo repete expressões que também estão no Símbolo da Fé dos católicos. Isto é no Credo, em que se proclama: “…creio nas coisas visíveis e invisíveis…”.
Esse articulado do post anterior, como já se disse foi escrito em grego, por quem é agora designado como Pseudo-Dionísio, o Areopagita. A tradução que se citou (em francês) é de Maurice Gandillac, autor que conhecemos ao estudar Monserrate.
Naturalmente, se esse nosso estudo - o de um mestrado - tivesse sido feito como se «faz» hoje a maioria dos mestrados (e até os dos doutoramentos) nada teríamos encontrado.
Porém, sequiosos de informação (ou talvez também a aproveitar os nossos conhecimentos e experiência?), foram os próprios professores e orientadores que nos colocaram questões «radicais» que, normalmente, e como escrevemos, não são exploradas.
Não nos cansaremos de o dizer, mas quando Maria João Neto nos desafiou (em Nov./Dez. de 2001): "...você nunca compreenderá Monserrate, se não compreender as «origens do Gótico»...", com essa frase ficou lançado um tema (que já era o seu), que é absolutamente seminal.
E também não nos cansaremos de o dizer, que encontradas as respostas que a nossa orientadora há anos procurava (e provas disto não faltam!); depois disso ter acontecido, e à medida que o tempo foi passando, o comportamento dos referidos professores e orientadores passou a ser outro: entornado, transtornado, enviesado? Que nome dar a quem trata o orientando e a questão seminal posta a descoberto, como se fosse um miúdo a quem se passasse a dizer: vá ver se chove!
Mas, pondo tudo isto de outra maneira, Thanks God por terem deixado nas nossas mãos aquilo que depois de encontrado, também tudo fizeram para o ignorar e esconder!
O tema que deveriam ter referenciado superiormente, para que (caso houvesse lógica e os normais desideratos da investigação no Ensino Superior), para que então, garantidamente, esses estudos pudessem prosseguir.
Não somos uma equipa, mas sabemos possuir aquilo que não é muito comum: uma «visão treinada» como os Historiadores da Arte não têm.
E isto não é imodéstia sem vergonha, mas algo que decorre das sucessivas informações que se foram encontrando e reunindo. Mais, nesse aspecto é a reivindicação do que se passou a conhecer, que nos é extremamente útil; mas que poderia ser útil para muitos mais!
Hoje sabemos ler (directamente) algumas obras da Arte Paleocristã, e aquilo que dela chegou aos séculos XVIII e XIX ainda «carregada» do seu sentido original. Estamos perante Materiais Iconográficos que a partir do meio-fim do século XX, quase só são vistos como formalismos geométricos, ou decorativismos sem sentido*. Acontece que captámos as lógicas de Santo Agostinho e do Pseudo-Dionisio: na forma (quase natural ou inata?) como fizeram corresponder sinais visíveis - com as suas regras muito especificas, como é o caso das figuras geométricas - às realidades invisíveis.
A fotografia acima não nos pertence. É um pavimento romano do século IV, na Casa do Infante no Porto. Nos seus sinais, que são de origem geométrica, na forma como estão acomodados e articulados permitem-nos fazer várias leituras, que se listam:
1. A questão do Filioque - em desenhos que depois também passaram ao estilo Românico - e que portanto antecedem a maior expressividade do estilo Gótico (relativa à questão da procedência do Espírito Santo).
2. Mas, por outro lado, essa maior definição já está nos círculos da bordadura, a preto, cujas intersecções são as Mandorlas brancas. Também aqui, repare-se, que esta imagem é a mesma que está em relevo no túmulo de Egas Moniz (que viveu cerca de 800 anos depois destes mosaicos terem sido aplicados).
3. Por extensão, também estão inscritas neste pavimento várias outras questões alusivas ao conhecimento de Deus, particularmente à Trindade Cristã.
4. E ainda, como explicámos quase no fim do nosso trabalho dedicado a Monserrate, também há referências à Virgem - Theotokos, ou Mãe de Deus (ver op. cit. p. 197, nota nº 407 e ainda na p. 271) - que assim ficou igualmente aludida nos «esquemas decorativos» da composição acima.
5. Para terminar referimos os Culots - que um qualquer bom dicionário francês menciona, comparando-os com a forma de cálices (medievais). Mas também a Cruz Pátea e outras imagens que são hoje consideradas características da Arte de Cîteaux. E essa Iconografia está igualmente registada, como defendemos, neste pavimento que se diz ser do século IV**.
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*Leia-se Jean-Claude Schmitt, Le Corps des Images, Essais sur la Culture Visuelle au Moyen Âge. Gallimard, Paris 2002. E ainda: “Toutes les images ne sont pas entièrement figuratives, et certaines ne «représentent» rien : il faut avec Jean-Claude Bonne, insister sur l’importance de la dimension ornementale des images médiévales. Elle consiste en la variété infinie de motifs géométriques ou végétaux, d’échos formels ou chromatiques sans valeur sémantique, mais qui n’en sont pas moins essentiels à la dynamique, au rythme, au symbolisme, à la fonction de l’image…". De J. LE GOFF e J.-C. SCHMITT, Dictionnaire Raisonné de L’Occident médiéval, Fayard Paris, 1999, op. cit., 504. Mas note-se que temos uma opinião contrária à de Jean-Claude Bonne.
**Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Porto
http://fotos.sapo.pt/g_azevedocoutinho/fotos/tri-gulo/?uid=hm69QWIz03cVSACJi45E&grande#foto