Sabemos que funcionavam como Ideogramas. Isto é, não exactamente como Símbolos, nem como insígnias (deixemos estas mais para as áreas militares*), mas como hoje dizemos numa só palavra ------» para contextualizar.
Isto é especificar aquele contexto que alguém num determinado enquadramento, «moldura» (ou até portal) recebe, ou «vive inserido» nele; imagem que o marca, ou se traduz - mentalmente para o leitor da imagem - numa integração no ambiente, e no cenário visual típico de uma época (em que foi ou está incluído).
Poderão constatar que são quase tudo sinónimos as palavras que estamos a empregar, só que era assim que o pensamento se articulava**. E assim se foi desenvolvendo e complexificando, a partir dos artigos-base, em inúmeras direcções. Chegando à actualidade com muitos a ficarem «altamente baralhados», sem saberem das evoluções que as palavras fizeram...
Mas para o post de hoje - que pretende elucidar melhor o anterior (e materiais que registámos em 2004) - interessa-nos a ideia de Símbolo, porque se encontra em Alain Besançon, quando nos parece, muito francamente, que lá não devia estar...?
(clic para legenda)
Está na imagem acima, que é a de um texto, e assinalado por nos parecer chocante - considerando o autor que é (!) - o facto de Besançon usar uma palavra que talvez nos séculos II-III ainda não tivesse o uso que veio a ter (muito) mais tarde.
E este muito mais tarde, remete principalmente para o século XIX e principio do século XX, quando houve uma procura quiçá excessiva, mas propositada..., de «simbolismos».
Claro que a palavra grega e a forma característica da «construção das palavras» nessa língua - a partir de "bolo" construiu-se o símbolo e diábolo, o simbólico e o diabólico.... Ora essas regras, aparentemente inatas de feitura das palavras, e muito parecidas com as regras de feitura das imagens, talvez hoje não permitam descobrir a data em que se tornou mais comum o uso do termo Símbolo?
Porém, o Símbolo dos Apóstolos - e mais tarde, em 325 (com acertos posteriores como se sabe) houve relativamente a este primeiro símbolo cristão, um imenso desejo de o actualizar. Assim como depois do séc. IV - dadas as inúmeras contribuições da Patrologia (em especial as de Santo Agostinho) - de continuar a manter constantemente actualizada, a redacção e todas as premissas que inclui, desse mesmo Símbolo: o de uma Fé que, por essa data, ainda estava «em construção»:
Não vamos entrar aqui com tudo o que sabemos existir relativamente à Hispânia, e as querelas ocorridas, sobretudo em Toledo depois do ano 400 (na Basílica de Santa Leocádia), em torno da redacção de Símbolos da Fé***.
E claro que vamos progredir nas nossas leituras, continuando a pesquisar em Alain Besançon, na medida em que a seriedade e a qualidade dos seus estudos, num tempo em que estão acessíveis vários outros conhecimentos - Antropologia, Psicologia, Neurociências - nos permite colocar outras questões bastante pertinentes, sobre o modo como as formas (de Platão - as geométricas) terão sido empregues; em vez dos sinais icónicos, mais facilmente reconhecíveis e identificáveis, a que Besançon se refere: como foram a Vinha, o Pavão, o Jardim, a Concha, o Peixe, o Barco... Apesar de o Pavão, a Concha, e por exemplo o Peixe, terem sido substituídos, alternativamente, por imagens «muito reduzidas» que qualquer um encaixa, exclusivamente, na área da caligrafia, não as classificando como icónicas. Pois não consegue estabelecer a analogia directa (de uma semelhança indiscutível) com configurações típicas das formas da natureza.
Assim, essas «imagens reduzidas» estão como que num limbo, entre o abstracto e o icónico: e fazem lembrar o grego antigo que (como ponte) ajudou Jean-François Champollion a decifrar a Pedra de Roseta.
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*O que também não é muito fácil distinguir, pois eram sinais com que os reis e os príncipes se marcavam, não apenas em tempo de guerra, mas também em épocas de paz.
**Não enunciando, forçosamente, no discurso oral ou no escrito, todas as alternativas que ocorreram na mente...
***Redacção que era também transponível para linguagens visuais, através da associação de várias figuras geométricas (que hoje são consideradas abstractas, como o Quadrifólio de que se partiu). E que, se forem ver, no nosso trabalho feito "a propósito do Palácio de Monserrate" em Sintra, lá encontrarão a ideia (que se deixou registada, ver na p. 157, e depois as figuras nº 111, da p. 271) de que o Amor à Virgem - que Bernardo de Claraval, como Maria João Baptista Neto nos explicou, incluindo os detalhes de uma imagem (que nunca vi), esse Amor era imenso.
Segundo nós cremos, o referido Amor - relembre-se que o Catolicismo o elevou ainda mais com a definição no século XIX do Dogma da Imaculada Conceição -; a adoração e a veneração que muitos outros passaram a dedicar à figura da Mãe de Deus, desde muito cedo, mas marcante durante a Idade Média. Em nossa opinião, essa adoração levou a que as Catedrais da Idade Média transitassem de um modelo Ternário inicial, para um Quaternário (posterior)
É um tema de que já escrevemos (noutras ocasiões) e continuaremos a escrever:
Porque a Catedral de Milão e os estudos de James Ackerman dedicados às Actas (antigas) - que reflectem as indecisões que estiveram por detrás das sucessivas campanhas de obras, realizadas ao longo de séculos; esses estudos permitem deduzir como a percepção de uma "estrutura divina", de que já escreveu Mark Gelernter «trabalhou» na mente dos projectistas (ou na dos que terão sido chamados Architectores?).
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