Como se pode ler em Prima Luce, muitas vezes gastamos tempo e energias a relatar o quotidiano; tempo que pode parecer mal-empregue, no entanto não deixamos de estar prejudicados pelas dificuldades que algumas instituições e os seus responsáveis nos têm colocado, as quais vamos denunciando...
Mas aqui em Iconoteologia privilegiamos, muito mais e directamente, os temas que interessa transmitir; tanto quanto é possível afastados (isolados até) desse mesmo quotidiano.
Sobre a palavra "Kalocagatia":
Na óptima tradução de José Saramago da História da Estética de Raymond Bayer (Editorial Estampa, 1995) encontra-se a palavra acima, escolhida para título do post de hoje. Assim como uma explicação muito genérica sobre os "Kala Schemata". Imagens que consideramos teriam sido "Esquemas Bons e Convenientes" na acepção de Vitrúvio, para exprimir uma série de Ideias. Acontece que esses esquemas, não ficaram apenas na Arte Antiga, da Antiguidade Clássica, e até da Alta e Baixa Idade Média.
Vemo-los chegar a tempos muito mais recentes, como são obras de meados do século XX:
Quando foram empregues em 1950 foram-no apenas por uma tradição e um sentido de «conveniência» de génese antiga, ou porque ainda se conhecia, de facto, o seu significado?
Essa é a pergunta que nos fazemos muito frequentemente, quando vemos proliferarem em várias/muitas obras, as Formas - também lhe chamamos Ideogramas (ou ainda Esquemas) - que durante centenas ou milhares de anos estiveram em locais muito específicos da construção, como são por exemplo as janelas.
No caso que hoje se apresenta está a mesma forma das Ogivas que Hugo de S. Victor propôs para o tecto da Igreja Gótica*. Deveriam ter, entre outras formas, a de "Aspa", ou também chamada "Cruz em Aspa".
(clicar para ampliação e legenda)
Como se vê na imagem - parte de um trabalho do MNAA, atribuído a Nuno Gonçalves - S. Vicente crucificado, e para a representação foi escolhida uma cruz com esse desenho. Acrescentando assim uma série de ideias (sinónimas, ou as integrantes do significado) da "Cruz em Aspa".
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*Os excertos de imagens que apresentámos (em http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/43991.html) que não estão completos porque obrigam a uma enorme redução desse desenho, formam uma cruz, cujos ângulos não são de 90º, mas muito desiguais. Oportunamente tentaremos reduzir essa imagem, ou mostrar apenas a zona central onde as diagonais se cruzam. No trabalho dedicado a Monserrate, na nota nº 154, p. 172, ler o que escrevemos sobre as Ogivas, como diagonais e suportes nos ângulos. No séc. XVIII foi George Essex - que chegou a colaborar com Horace Walpole e que escreveu uma História da Arquitectura Gótica em Inglaterra - quem referiu esta forma como uma característica específica/novidade do Gótico. Informação que consta em Kenneth Clark, embora não tão clara e explicita como estamos agora a dar.
Ver também: http://primaluce.blogs.sapo.pt/