Onde está um texto intitulado - A PROPÓSITO DE "RAPAZES”..., por Francisco Moraes Sarmento, que termina assim:
“Neste aspecto, António Quadros não deixou de estar também atento ao preceito alvarino segundo o qual não há filosofia sem teologia e, assim, também pensou os modos da ideia de Deus na história portuguesa.”
Quando em 2002 começámos a perceber que estávamos a encontrar vários materiais que A. Quadros tinha procurado, virámo-nos logo para alguns dos seus livros (que A. Ferro nos oferecera); mas, apesar de serem «óptimas portas» para entrar numa temática que é muito difícil, as informações também eram insuficientes (e não exactamente o que queríamos). Pelo que nos pareceu essencial ir procurar noutros livros. Tanto mais que, também estávamos a perceber que várias Ideias (como as últimas palavras que constam na citação acima) tinham sido traduzidas por Imagens.
Depois (de 2006-2008), desde que encontrámos na biblioteca da UCP – BUJPII - um intitulado Estudio Iconoteológico*, a partir dessa data nunca mais largámos a palavra Iconoteologia (criada por Eugenio Marino O.P.); porque é muito explícita: ao conseguir exprimir o essencial daquilo que se passou na Arte, e como Deus está/ficou na história (e também na portuguesa). Concretamente no que hoje se chama História da Arte.
É que mesmo que a Europa não tenha querido integrar no Preâmbulo da sua Constituição uma referência à génese cristã, todos temos acesso e podemos conhecer a História da Europa, e a dos povos e nações que a formam: como quiseram chegar («invadir»?) ao antigo Império Romano, e como contribuíram para aquilo que é actualmente.
Mas também para o que foi, e está muito esquecido, nos contributos de Clóvis (séc.V) e sua conversão ao Catolicismo; ou sobretudo com o contributo de Carlos Magno (séc. IX) que se rodeou de teólogos, querendo renovar o antigo império romano que decidiu «designar» para um futuro duradouro: Sacro Império Romano-Germânico. Perdurou até à Revolução Francesa.
Assim parece que se deve conhecer a História, mas também a Filosofia, e perceber como esta se transformou em Teologia: exactamente quando quis conhecer Deus**.
E ainda (porque não?) - fazemos uma sugestão aos leitores: que visitem os Cadernos de Filosofia Extravagante onde se fala de Pinharanda Gomes e as suas buscas. Feitas, não no sentido da foz (de um ribeiro ou rio), mas “na direcção da nascente”. Alguém de quem também foi escrito: “não precisou de Faculdade porque já é dotado dela. Num tempo em que a Universidade se opõe à Cultura – segundo a acepção de Álvaro Ribeiro de que só é cultura aquilo que pressupõe um culto...”***
(clic para legenda)
Acima a capa de um livro de uma autora citada por A. Quadros - em Portugal Razão e Mistério, Guimarães Editores, 2ª edição, 1987. Ver vol. II, p. 33.
Note-se que refere os Profs. Lenone Tondelli e Marjorie Reeves, como tendo identificado "...o autor até aqui obscuro, do códice 'Liber Figurarum': o Abade de Flora." No nosso trabalho dedicado ao Palácio de Monserrate, como é sabido (e explicámos), logo de início muito mudou: exactamente quando compreendemos a Mandorla e o Arco Quebrado - formas iconográficas geradas por dois círculos que se intersectam (ou entrelaçam). Formas que, se as contássemos (?), poderíamos verificar como estão presentes dezenas de milhares de vezes, naquilo que agora são obras de arte.
Sobre a exegese da figura acima e dos 3 círculos (trinitários) que a formam, considera-se que é um tema próprio da Teologia e dos Teólogos. Embora nos interessem (e temos muito trabalho feito sobre esta questão), as representações iconográfico-geométricas consideradas abstractas: as quais foram ideogramas (e depois ornamentos), e a que Antónios Quadros se refere, repetidamente, nas referências infindáveis que conseguiu cruzar.
No entanto, as que nos interessam não são todas: mas apenas aquelas que «chegamos a ler» (ou a descortinar o respectivo sentido). O qual nos parece ser, sempre, mais directo e bastante mais simples do que António Quadros supôs, por serem imagens baseadas na Teologia. Isto é, num conjunto de conhecimentos que, munidos de toda a objectividade (e máximo «enquadramento histórico» ), podemos conhecer e colocar em paralelo.
Ou seja, olhando as ideias teológicas de cada época, e as imagens que simultaneamente foram criadas, para visual e ideograficamente as traduzirem. Por isto também se pode acrescentar - inclusive para as pinturas pré-históricas a que Quadros também se referiu (como "representações pictográficas") - que a Imagem precedeu a Palavra. E, clara e obviamente, também o alfabeto!
Na obra que estamos a citar - agora o vol. I, pp. 97 e 145 - António Quadros realça a sua perplexidade face ao que encontrou: enfatizando sempre a ideia, no que segue outros autores, de que estas linguagens (visuais) a que chama escritas podem ter sido especificamente ibéricas. E, enfim, na p. 149 registou a seguinte citação (que em nossa opinião, é marcada por um empolamento, excessivo, do papel de uma região - a Ibéria, para aquilo que é comum a toda a Europa!):
"A escrita ibérica espera ainda o seu Champollion,...".
*Cujo título completo é: Culture religiosa en la Granada renascentista y barroca: estudio iconoteológico, por Francisco Javier Martínez Medina. Granada: Facultad de Teologia, 1928.
**Como escreveram alguns autores, e registámos nas nossas investigações. Por exemplo : "…quand les connaisseurs de Dieu célèbrent par des noms multiples la cause universelle de tout effet en partant de tous ses effets, comme Bonté, Beauté, Sagesse, comme [596 B] Digne d’amour, Dieu des dieux, … ". Ver Maurice GANDILLAC, Œuvres Complètes du Pseudo-Denys, l’Aréopagite. Traduction, Préface et Notes, Éditions Montaigne, Paris 1943: pp. 74 e 75. E ainda sobre a expressão "conhecimento de Deus", note-se que já a deixámos em Monserrate, uma nova história. Ler nota nº 92, op. cit., p. 167. Podem parecer questões antiquíssimas e desinteressantes, mas são o nosso inconsciente (colectivo).
***Ver em: http://filosofia-extravagante.blogspot.pt/2009/07/extravagancias-23.html