Muitas imagens da arquitectura foram «iconoteologia». Many images of ancient and traditional architecture were «iconotheological». This blog is to explain its origin.
23.8.14

Sobre um passeio em Portalegre e aquilo que fomos recordando ao percorrer o espaço urbano, o jornal PortalegreCultural - http://portalegrecultural.pt/interpretacoes-e-interaccoes-urbanas-na-cidade-de-portalegre/ - publicou um artigo nosso, em que estão referidas informações que muitos Historiadores da Arte desconhecem: ou, em casos específicos, que sabemos quais são, em que formal e oficialmente eles preferem desconhecer!

Seja como for (?), o problema é acima de tudo dessas pessoas (e depois do país, claramente).

Já que, cada vez mais a publicação on line é um facto real, com impacto crescente e incontornável. Bastando aliás, por exemplo, conhecer as Estatísticas das visitas aos nossos blogs para confirmar o que escrevemos. 

No base do referido artigo existem, e foram citadas (como há dias se prometeu escrever sobre este assunto), algumas «Analogias fortemente impregnadas de platonismo»

É o caso da obra de Santo Agostinho, onde se encontra a analogia (ou uma comparação com objectivos pedagógicos/catequéticos) entre Deus e o Círculo; mas também com a Esfera.

E é ainda fortemente platónica a obra de Dionísio, chamado o Pseudo-Areopagita, que viveu onde é a Síria actual, cerca de dois séculos depois de Santo Agostinho (que viveu no Norte de África).

Do autor de A Hierarquia Celeste - que foi também tratada no séc. XII por Hugo de S. Victor - sabe-se o quanto influenciou a Arquitectura Gótica, embora continue a ser mais referido o trabalho do Abade Suger em Saint-Denys (como tendo estado no início do novo estilo arquitectónico...) 

Assim, o texto seguinte - que já citámos em http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/uma-inteligencia-perspicaz-nao-ficaria-69726 - é agora apresentado, ainda e mais uma vez em francês, mas, desta vez tendo logo a seguir uma tradução nossa: i. e., feita com as nossas possibilidades, mas também com todas as nossas limitações*:

 

“Les verges indiquent le pouvoir royal, la souveraineté, la rectitude avec laquelle elles mènent toutes choses à leur achèvement (…) les équipements de géomètres et d’architectes, leur pouvoir de fonder, d’édifier et d’achever et, en général tout ce qui concerne l’élévation spirituelle et la conversion providentielle de leurs subordonnées. Il arrive aussi parfois  que les instruments avec lesquels on les représente symbolise [333 C] les jugements de Dieu à l’égard des hommes, les uns représentant les corrections disciplinaires ou les châtiments mérités, les autres le secours divin dans les circonstances difficiles, la fin de la discipline ou le retour à l’ancien bonheur, ou encore le don de nouveaux bienfaits, petits ou grands, sensibles ou intellectuelles. En somme une intelligence perspicace ne saurait être embarrassé pour faire correspondre les signes visibles aux réalités invisibles.”    

(clic para legenda)

"As vergas indicam o poder real, a soberania, a rectidão com a qual elas [a soberania e a rectidão] levam todas as coisas à sua concretização (...) os equipamentos de geómetras e de arquitectos, o seu poder de fundar, de edificar e de concretizar e, em geral tudo o que se relaciona com a elevação espiritual e a conversão providencial das suas  subordinadas. Acontece também por vezes que os instrumentos com os quais se representam simbolizam [333C] os julgamentos de Deus em relação aos homens, uns representando as correcções disciplinares ou os castigos merecidos, os outros a ajuda divina em circunstâncias difíceis, o fim da disciplina ou o regresso à antiga felicidade, ou ainda o dom de novos benefícios, pequenos ou grandes, sensíveis ou intelectuais. Em suma uma inteligência perspicaz não ficaria embaraçada por fazer corresponder os sinais visíveis às realidades invisiveis."

Excerto proveniente de Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys L’Aréopagite. Trad. Maurice de Gandillac, Éditions Montaigne, Paris 1943, p. 240; o qual, repete-se, foi agora traduzido por nós (sublinhado amarelo).

Apresenta-se e insiste-se na questão, por consistir numa das melhores provas - clara, indiscutível - da validade do que defendemos desde Março de 2002.

 

Ainda sobre o texto acima, claro que quando se escolhem frases, palavras ou imagens para exprimir ideias, está-se a "fazer corresponder"- e muitas vezes isso ficou estabelecido durante séculos (ou milénios**) - o sentido dessas frases, palavras e imagens, que eram audíveis e visíveis, com "realidades invisíveis", como é o caso de Deus.     

 

Seguem-se as notas do artigo de 23.06. 2014, no PortalegreCultural:

[1] Jorge Rodrigues e Paulo Pereira, Portalegre, Editorial Presença, Lisboa 1988, p. 27.

[2] Jean Delumeau, Des Religions et des Hommes, Le Livre de Poche, Paris 1996, p. 9.

[3] A ideia de “religar” em Religião é muito abrangente. Também passou à Arte através da articulação de círculos e figuras geométricas que aparecem entrelaçadas de vários maneiras. Como explica Vítor Bento (sobre a Ética) a laicização mudou comportamentos. Ver A religião pode salvar a economia?Diário de Notícias, Lisboa 31.05.2014, pp. 4-9.

[4] Santo Agostinho descreveu Deus como um círculo, o que foi ampliado. Inúmeros detalhes construtivos reúnem círculos, triângulos, quadrados, octógonos, etc. A cidade antiga de Sana (no Iémen), ou o Centro Histórico do Porto devem a esses detalhes a inclusão na Lista do Património Mundial da Unesco.

[5] No Palácio Fronteira (Lisboa) há vãos com bandeiras em leque, e no piso térreo janelas altas (parecem elípticas) com losangos. Motivos heráldicos cuja presença na arquitectura doméstica «falava» pelos proprietários.

[6] Na sobriedade (quase iconoclasta) de Bernardo de Claraval, o losango era motivo de Contemplatio, razão porque é muito frequente nas superfícies das igrejas. Ver Marie-Madeleine Davy, Initiation à la symbolique romane. Flammarion, Paris 1977, pp. 208-210.

[7] Manuel da Costa Juzarte de Brito, Livro Genealógico das Famílias desta Cidade de Portalegre, Media Livros SA, Tipografia Peres, Lisboa 2002: Palácio do Visconde de Portalegre, p. 938.

[8] Idemop. cit., p. 923.

[9] Ver Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys L’Aréopagite. Trad. Maurice de Gandillac, Éditions Montaigne, Paris 1943, p. 240.

[10] Estilo (artístico) é o desenho, vindo o termo de objectos pontiagudos – stylus – usados para riscar.

[11] Regina Anacleto em Arquitectura Neomedieval Portuguesa, Lisboa (v. I, p. 60) explica a veneração dos locais altos. Antes existia a igreja de Santa Maria do Castelo, que D. Julião de Alva escolheu para Sé.

[12] Ver A Cidade, Revista Cultural de Portalegre, nº 10 (Nova Serie), Portalegre 1995, pp. 22-24.

[13] É agora difícil compreender, mas houve uma lógica inicial, para o uso da iconografia sagrada nos Palácios. Relaciona-se com a noção da Origem Divina do Poder do rei (ou o dos nobres – senhores feudais). Por extensão, os ditos «serviços públicos» tal como o rei serviam o povo, e usavam as mesmas imagens.

[14] Idem, Manuel da Costa Juzarte de Brito, op. cit., pp. 943-944.

[15] Para Blaise Pascal que viveu no século XVII a igreja era a barca protectora do dilúvio. Dicionário de Símbolos, por J. Chevalier e A. Gheerbrant, Editorial Teorema, Lisboa 1994, p. 116. Acontece que desde o Livro do Génesis (I Livro da Bíblia), e sobretudo, depois de no século XII Hugo de S. Victor ter escrito os tratados De archa Noe, como sabemos esse foi o modelo, alegórico e construtivo,para a igreja Românico-Gótica.

[16] Decorativo decoroso – sinónimos de decente, conveniente. Ver ainda Catecismo da Igreja CatólicaAs Santas Imagens e referências ao II Conc. de Niceia (787), Gráfica de Coimbra, 1993, p. 266.

[17] Jacques Le Goff, O Imaginário Medieval, Editorial Estampa, 1994, pp. 35-41.

[18] Michael Lewis citado em Monserrate – uma nova história, Glória Azevedo Coutinho, Livros Horizonte, Lisboa 2008, nota 317, p. 187.

[19] Fica-se a saber que é visto como grande pedagogo, ou ainda que “…está fortemente marcado pela retórica e pelo espírito do período da Contra Reforma...”

http://tinyurl.com/pk4l8t7. Informações vindas da Literatura e de Joaquim de Carvalho, antigo professor de Coimbra:

http://tinyurl.com/of272r5

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*Tratam-se das mesmas razões que nos fizeram acreditar na enorme valia (evidente) dos materiais que fomos encontrando, quer nos estudos do mestrado, quer depois nos do doutoramento. E, cumulativamente, as razões que também temos para evidenciar as imensas desonestidades, e as omissões graves, que se encontram no Ensino Superior português. No nosso caso, a percepção que temos da maneira como são reconhecidos e tratados os que trabalham e obtêm resultados inesperados que - em prol da Ciência, e do desenvolvimento cientifico do país - nunca deveriam ser desvalorizados e portanto menos ainda ocultados!

**São alusões mnemotécnicas, normalmente chamam-lhes Alegorias.

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26.7.14

As fotografias e imagens seguintes podem não ser todas da nossa autoria, mas são hoje de colecções nossas: constituem provas de que há Ideogramas que não «variaram» - e por isso Horta Correia lhes chama Invariantes - já que existiram e existem em diferentes estilos.

Esses são os estilos artísticos e arquitectónicos do Ocidente Europeu, de origem religiosa, que nos sugeriram que investigássemos nos contextos de estudos de mestrado e doutoramento na Universidade de Lisboa, desde 2001 a 2012 (ininterruptamente).

Sobre esse «ininterrupto», e as indignidades que temos suportado, há em Primaluce demasiada informação. Por aqui tenta-se que haja, apenas e mais especificamente, os temas que de verdade nos interessam: i. e., os do ponto de vista da Ciência - que permitem compreender o passado, e sobretudo a Arte actual.

Assim fica um número razoável de imagens, onde, talvez notem? - se forem perspicazes... - que estão elementos desenhados (ou figuras esquemáticas) comuns aos que existem no Pavimento de Mosaicos Romanos da Casa do Infante no Porto. 

Note-se que existem notórios nos Vãos Bífores, que se usaram durante cerca de 15 séculos. Ou seja, a Verga que une as duas (ou por vezes três) luzes que os constituem, era sem qualquer sombra de dúvida (e estamos absolutamente convictos disso); ela era um esquema significante*. O que não temos deixado de repetir nas faculdades e instituições onde estamos e desenvolvemos os nossos estudos e investigações...

Agora, destas informações façam o que quiserem: a blogosfera existe, é uma realidade, como o são hoje a Google, em especial a google.com.br (de onde nos chegam inúmeras visitas). Como também o são vários dicionários, motores de busca e contadores de informação que nos citam e incluem nas suas referências**. Ou seja, para esses - que estão em áreas vastíssimas (e não apenas num cantinho lisbonense...) - existimos. 

Chegados aqui, é impossível não pensar em Miguel Real e no que tem escrito sobre a Morte de Portugal. Ou, o que é já, cada vez mais indiferente, que as instituições às quais estamos ligados, elas considerem (ou não?) a existência dos nossos estudos:

Isto é, das constatações a que chegámos, e às conclusões a que, era impossível - só para quem não tivesse nada na cabeça... não se iriam retirar!

São evidências, mas quem quiser que continue a negá-las:

E que seja muito feliz no seu torpor mental, desejado e militante! 

 

*Como o vão bífore da Torre de Arzila ostensivamente o demonstra, por ser igual a desenhos esquemáticos que podem ver em pavimentos romanos, e como está no nosso Ideograma desenhado e colocado à esquerda. Ou, como o texto que já citámos do Pseudo-Dionisio, o Areopagita, relativo a uma inteligência perspicaz que em sua opinião não se embaraçaria ao estabelecer correspondências que foram como metáforas visuais. A reler em:

http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/uma-inteligencia-perspicaz-nao-ficaria-69726

**Casos de: priberam.pt; bing.com e semalt.com

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20.7.14

Está no título do nosso post anterior, e é um articulado de palavras que de certo modo repete expressões que também estão no Símbolo da Fé dos católicos. Isto é no Credo, em que se proclama: “…creio nas coisas visíveis e invisíveis…”.

Esse articulado do post anterior, como já se disse foi escrito em grego, por quem é agora designado como Pseudo-Dionísio, o Areopagita. A tradução que se citou (em francês) é de Maurice Gandillac, autor que conhecemos ao estudar Monserrate.

Naturalmente, se esse nosso estudo - o de um mestrado - tivesse sido feito como se «faz» hoje a maioria dos mestrados (e até os dos doutoramentos) nada teríamos encontrado.

Porém, sequiosos de informação (ou talvez também a aproveitar os nossos conhecimentos e experiência?), foram os próprios professores e orientadores que nos colocaram questões «radicais» que, normalmente, e como escrevemos, não são exploradas.

Não nos cansaremos de o dizer, mas quando Maria João Neto nos desafiou (em Nov./Dez. de 2001): "...você nunca compreenderá Monserrate, se não compreender as «origens do Gótico»...", com essa frase ficou lançado um tema (que já era o seu), que é absolutamente seminal.

E também não nos cansaremos de o dizer, que encontradas as respostas que a nossa orientadora há anos procurava (e provas disto não faltam!); depois disso ter acontecido, e à medida que o tempo foi passando, o comportamento dos referidos professores e orientadores passou a ser outro: entornado, transtornado, enviesado? Que nome dar a quem trata o orientando e a questão seminal posta a descoberto, como se fosse um miúdo a quem se passasse a dizer: vá ver se chove!

Mas, pondo tudo isto de outra maneira, Thanks God por terem deixado nas nossas mãos aquilo que depois de encontrado, também tudo fizeram para o ignorar e esconder!

O tema que deveriam ter referenciado superiormente, para que (caso houvesse lógica e os normais desideratos da investigação no Ensino Superior), para que então, garantidamente, esses estudos pudessem prosseguir. 

Não somos uma equipa, mas sabemos possuir aquilo que não é muito comum: uma «visão treinada» como os Historiadores da Arte não têm.

E isto não é imodéstia sem vergonha, mas algo que decorre das sucessivas informações que se foram encontrando e reunindo. Mais, nesse aspecto é a reivindicação do que se passou a conhecer, que nos é extremamente útil; mas que poderia ser útil para muitos mais!

Hoje sabemos ler (directamente) algumas obras da Arte Paleocristã, e aquilo que dela chegou aos séculos XVIII e XIX ainda «carregada» do seu sentido original. Estamos perante Materiais Iconográficos que a partir do meio-fim do século XX, quase só são vistos como formalismos geométricos, ou decorativismos sem sentido*. Acontece que captámos as lógicas de Santo Agostinho e do Pseudo-Dionisio: na forma (quase natural ou inata?) como fizeram corresponder sinais visíveis - com as suas regras muito especificas, como é o caso das figuras geométricas - às realidades invisíveis.   

 

A fotografia acima não nos pertence. É um pavimento romano do século IV, na Casa do Infante no Porto. Nos seus sinais, que são de origem geométrica, na forma como estão acomodados e articulados permitem-nos fazer várias leituras, que se listam: 

1. A questão do Filioque - em desenhos que depois também passaram ao estilo Românico - e que portanto antecedem a maior expressividade do estilo Gótico (relativa à questão da procedência do Espírito Santo).

2. Mas, por outro lado, essa maior definição já está nos círculos da bordadura, a preto, cujas intersecções são as Mandorlas brancas. Também aqui, repare-se, que esta imagem é a mesma que está em relevo no túmulo de Egas Moniz (que viveu cerca de 800 anos depois destes mosaicos terem sido aplicados).

3. Por extensão, também estão inscritas neste pavimento várias outras questões alusivas ao conhecimento de Deus, particularmente à Trindade Cristã. 

4. E ainda, como explicámos quase no fim do nosso trabalho dedicado a Monserrate, também há referências à Virgem - Theotokos, ou Mãe de Deus (ver op. cit. p. 197, nota nº 407 e ainda na p. 271) - que assim ficou igualmente aludida nos «esquemas decorativos» da composição acima. 

5. Para terminar referimos os Culots - que um qualquer bom dicionário francês menciona, comparando-os com a forma de cálices (medievais). Mas também a Cruz Pátea e outras imagens que são hoje consideradas características da Arte de Cîteaux. E essa Iconografia está igualmente registada, como defendemos, neste pavimento que se diz ser do século IV**.

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*Leia-se Jean-Claude Schmitt, Le Corps des Images, Essais sur la Culture Visuelle au Moyen Âge. Gallimard, Paris 2002. E ainda: “Toutes les images ne sont pas entièrement figuratives, et certaines ne «représentent» rien : il faut avec Jean-Claude Bonne, insister sur l’importance de la dimension ornementale des images médiévales. Elle consiste en la variété infinie de motifs géométriques ou végétaux, d’échos formels ou chromatiques sans valeur sémantique, mais qui n’en sont pas moins essentiels à la dynamique, au rythme, au symbolisme, à la fonction de l’image…". De J. LE GOFF e J.-C. SCHMITT, Dictionnaire Raisonné de L’Occident médiéval, Fayard Paris, 1999, op. cit., 504. Mas note-se que temos uma opinião contrária à de Jean-Claude Bonne.

**Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Porto

http://fotos.sapo.pt/g_azevedocoutinho/fotos/tri-gulo/?uid=hm69QWIz03cVSACJi45E&grande#foto

http://primaluce.blogs.sapo.pt/

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