Os Ideogramas que desenhámos em Fevereiro (e se podem rever aqui) servem-nos para chamar a atenção, para aquilo que uma nova História a Arte pode e deve, vir a ser.
E se nós lhes chamamos Ideogramas, há no entanto outros autores que os vêem como Diagramas. É o caso de Patrice Sicard (*). Mas também o de Gilbert Keith Chesterton (ou simplesmente G. K. Chesterton) que se refere a Diagramas. No entanto, considera-os platónicos, opondo-os à realidade da Incarnação (**).
Voltando ao início, sim haverá uma nova História da Arte quando em geral os investigadores e os estudiosos compreenderem/concluírem, que houve IDEOGRAMAS ABSTRACTOS com um papel básico (e essencial) na imagem geral das obras. Isto é, moldando-as, desde o seu primeiro esboço:
Porque lhes deram forma, quer nas linhas de base - nos grandes traçados (por vezes chamados traçados directores), quer nos menores detalhes.
Quer ainda, quando reúnem formas - supostas exclusivamente abstractas -, de origem geométrica. Como são os referidos Ideogramas.
E depois também quando combinam essas formas abstractas, com as formas icónicas (em geral ditas naturalistas), como fizemos na junção seguinte.
(inclui a imagem designada Senhor da Paciência, do Museu Municipal de Portalegre)
E se isso acontecer (o que de facto aconteceu milhares de vezes!) - "quando em geral os investigadores e estudiosos da Historia da Arte compreenderem e concluírem que os IDEOGRAMAS ABSTRACTOS tiveram um papel essencial na imagem geral das obras" - então também se poderá constatar, por exemplo, que os azulejos com os padrões que apresentam, vindos dos Ideogramas, foram claramente mnemotécnicos.
Acrescentando outras vantagens que as superfícies de pedra, de madeira ou as pintadas, não conseguiam ter. Visto que, pelo vidrado, os azulejos conferem brilho(s) às superfícies, e aos ambientes onde foram aplicados; assim como, conferem alguma resistência extra, e impermeabilização, a essas superfícies.
Segundo G. K.. Chesterton - "Só o Ocidente fez quadros realistas da maior de todas as histórias originárias do Oriente."
"...vemos esta coisa estranha, que o Oriente era a terra da cruz e o Ocidente a terra do crucifixo. Os gregos estavam a ser desumanizados por um símbolo radiante, ao passo que os godos iam sendo humanizados por um instrumento de tortura. Só o Ocidente fez quadros realistas da maior de todas as histórias originárias do Oriente.
Eis porque o elemento grego na teologia cristã tendeu cada vez mais para se converter numa espécie de platonismo seco, uma coisa de diagramas e de abstracções, todas elas muitíssimo nobres, sem dúvida, mas que não eram suficientemente tocadas por essa coisa imensa que, por definição, é quase o contrário das abstracções: a Incarnação. O seu Logos era o Verbo, mas não o Verbo feito carne. Por vias muito subtis, muitas vezes escapando à definição doutrinal, este espírito espalhou-se pelo mundo da cristandade, a partir do lugar onde o sagrado imperador se sentava debaixo de mosaicos dourados; e a civilização do império romano nivelou-se numa degradação moral, que preparou uma espécie de caminho suave para Maomé. Porque o islão foi a realização final dos iconoclastas. Todavia, muito antes disso, já havia esta tendência para tornar a cruz meramente decorativa como o crescente, transformá-la num símbolo como a chave grega ou a roda de Buda. Mas há algo de passivo num tal mundo de símbolos; a chave grega não abre porta nenhuma, enquanto a roda de Buda gira sempre e nunca avança.
Em parte devido a estas influências negativas, em parte devido a um ascetismo necessário e nobre, que buscava rivalizar com o padrão tremendo dos mártires, as primitivas idades cristãs haviam sido excessivamente anticorpóreas e demasiado próximas da linha perigosa do misticismo maniqueu. Havia, porém, muito menos perigo em os santos macerarem o corpo do que em os sábios o desprezarem. Admitida toda a grandeza da contribuição de Agostinho para o cristianismo, havia, de certo modo, perigo mais subtil no Agostinho platónico do que no Agostinho maniqueu. Dela proveio uma mentalidade que, inconscientemente, levou à heresia de dividir a substância da Trindade. Pensava que Deus era, de modo demasiado exclusivo, um Espírito que purifica ou um Salvador que redime, e muito pouco um Criador que cria. Eis porque homens como Tomás de Aquino entendiam dever corrigir Platão pelo recurso a Aristóteles, ele que considerou as coisas como as encontrou, exactamente como Tomás de Aquino as aceitou conforme Deus as fez. Em toda a obra de São Tomás, o mundo de criação positiva está perpetuamente presente. Humanamente falando, foi ele quem salvou o elemento humano na teologia cristã, embora utilizasse, por conveniência, certos elementos da filosofia pagã. Mas, como já se disse, o elemento humano é também cristão.
O pânico pelo perigo aristotélico, que passara pelos elevados postos da Igreja, foi provavelmente um vento seco do deserto. Na realidade, vinha mais carregado do medo de Maomé do que de Aristóteles, o que não deixa de ter a sua ironia, porque na verdade há muito mais dificuldade em reconciliar Aristóteles com Maomé do que em reconciliá-lo com Cristo. (***)
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