Já escrevemos sobre eles, e é tanto, muitíssimo mais, que um dia poderemos dizer, relativamente a esses Tratados da Arca:
Que haja condições para isso, uma equipa, ou um qualquer outro «milagre», que amplie as nossas capacidades de trabalho; e ainda que multiplique as horas em que podemos ficar sentados...!*
Assim hoje lembra-se um post nosso que tem oito anos , e em que DLA com o seu endofarchitecture também colaborou**. Mostrando-se aquilo que Philibert De L'Orme sabia, relativamente à iconografia de uma casa nobre: como o Chateau francês - e não esquecer que estudámos Monserrate, le petit chateau de Monsieur De Visme à Sintra... - devia ainda seguir, tal como as igrejas, algumas das prescrições dadas a Deus por Noé, para construir a sua (Arca-)Barca.
Mas também se lembra e mostra, um post de hoje, que nos lembra que os dias difíceis, e os de vida confinada, muitos ficaram para a História: há que não o esquecer! ***
Claro que a imagem acima é uma adaptação que fizemos da capa do Dicionário por Imagens da Bíblia. Éditions Fleurus, Paris 1998. Título original: L'Imagerie de la Bible. Versão Portuguesa de Março de 2000.
Mas, o mais importante, e aquilo que nos fez trazer para aqui esta imagem, é o facto de sabermos da existência dos Tratados de Hugues de Saint-Victor que, em geral se pensa serem de Teologia, mas que (e como defendemos) deram origem à Arquitectura da igreja românico-gótica:
Porque esta quis ser a Arca de Noé, que se supunha ser uma Arca-Barca salvífica. Como está registado numa parede da igreja de Fátima em Lisboa, obra de Almada Negreiros. Um autor que a este propósito se cita, por sabermos que não entregava a outros, nem deixava por mãos alheias, o que devia ser o mais significante - ou o mais impactante - nos seus trabalhos e obras.
Como mostra a imagem acima, sempre gostámos da expressividade e da simplicidade do que vem das crianças, ou é para as crianças. Porém, quem quiser abordar cientificamente este assunto, que nada tem de simples, e pode até ser muitíssimo árduo, então que não deixe de consultar a Patrologia Latina de Migne, o que pode ser feito indo pelo link.
Sobretudo, que não falhe os trabalhos de Patrice Sicard - que foi cónego de Notre Dame (Paris). Um autor cujas investigações dedicadas a este tema, primeiro nos surpreendem imenso; e que depois nos obrigam a admirá-lo pelo trabalho, vastíssimo e extraordinário, a que se entregou.
Depois, no fim estão os títulos em latim, os que Hugues de Saint-Victor (autor do século XII com uma obra vastíssima) lhes deu. Concretamente:
DE ARCHA NOE PRO ARCHA SAPIENTIE CVM ARCHA ECCLESIE ET ARCHA MATRIS GRATIE
LIBELLUS DE FORMATIONE ARCHE
Sendo que o primeiro, como gosto de dizer, é toda a construção da alegoria em torno da Igreja , como Arca-Barca que há-de salvar a Humanidade. Acrescentando sempre, que é algo equivalente, ao que hoje é a Memória Justificativa de um projecto de arquitectura.
E o segundo livro - LIBELLUS DE FORMATIONE ARCHE - é o livrinho, cujo titulo nasce do facto de ser de muito menor dimensão; sendo neste que se ensina a construir a referida Arca.
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*E horas em que não estejam professores «verdadeiros patetas-desorientadores» a impedir os nossos trabalhos...
**Embora o mesmo esteja agora inacessível
*** Admitindo que não sabemos se a história de Noé, do primeiro livro da Bíblia, é verdadeira ou lenda...? Certo mesmo é que o Arco - considerado sinal de Deus - a partir de determinada data, foi inserido no que era a Verga Recta (sinal de rectidão, na antiga arquitectura grega). E também, porque ficou escrito assim:
"Disse Deus: (...) Quando eu reunir as nuvens sobre a terra e o arco aparecer na nuvem, eu me lembrarei da aliança que há entre mim e vós e todos os seres vivos..." (Génesis 9 , 12-16)
E este é o início de uma outra história, a que a tradução da Bíblia (judaica) para a língua grega - no século IIIº a. C. - veio a dar um muito maior relevo...