Em geral os cristãos/católicos sabem que a Igreja considera que o seu «nascimento» aconteceu no Cenáculo quando os Apóstolos estavam reunidos com a Virgem para celebrarem o Pentecostes (judaico).
Entre nós portugueses, primeiro no Continente e depois com projecção para as Ilhas, e para todo o mundo, a celebração das Festas do Espírito Santo continua a fazer-se com as mais diferentes variantes. Pensemos nas Festas dos Tabuleios de Tomar, nas de Almoçageme, ou até, ainda naquelas que se fizeram em Alcabideche nas primeiras décadas do século XX e que Ferreira de Andrade descreveu em Cascais Vila da Corte, Oito Séculos de História.
Trabalho cuja primeira publicação é de 1964, pela Câmara Municipal de Cascais.
Quando estudámos Monserrate, consequência do «exigentíssimo» briefing da nossa orientadora percebemos que o Gótico é o estilo mais directamente ligado à Igreja como (tradução da ideia) Templo do Espírito Santo; porque não só o edifício deveria ser e concretizar essa ideia, mas depois, também os Cristãos, cada um, deveria ser "Templo do Espírito Santo".
Assim, sempre que abordamos estes temas temos que lembrar como esta temática é imensa, e merecedora de estudos que permitam abri-la: não só o que se tem pensado serem conhecimentos secretos, esotéricos e herméticos, mas também, e porque se passou connosco, libertá-la (agora) de toda a censura que algumas faculdades e instituições de ensino superior entenderam impor-nos e aos nossos estudos.
Como não poderia deixar de ser, e foi particularmente desenvolvido no nosso trabalho sobre Monserrate*, as idealizações e as representações do Espírito Santo (por isso também de Deus e da Trindade) tomaram muito do nosso tempo e energias: para podermos chegar a compreender como essas mesmas idealizações geraram formas arquitectónicas.
Sabemos portanto quais os caminhos a percorrer - podendo indicar por onde se deve começar - para todos os que queiram compreender este assunto tão fascinante da História da Europa e do Mundo, e que em Portugal - da Arquitectura à Pintura - produziu, sem qualquer dúvida algumas das melhores obras.
Na imagem seguinte vinda do Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant (ed. Teorema, Lisboa 1982) um excerto da página 680.
Notem que escolhemos apenas o texto inicial, tendo sublinhado algumas associações que facilmente se traduziram em formas e em vocabulário geométrico. O qual, das mais diferentes maneiras - um dos bons exemplos é o caso do octógono - frequentemente ficou inscrito (ou built-in) nas edificações.
Razão para considerarmos que as censuras sobre os nossos estudos são ainda mais absurdas: um sinal verdadeiramente extraordinário dos tempos, e da pobreza intelectual/científica que está a ser imposta aos que tem curiosidade verdadeira, e querem satisfazê-la. E NESTE CASO dentro da própria escola/universidade onde esses indícios foram surgindo.
Ou seja, por mais estranho que até a nós nos pareça (!?) e aqui lembramo-nos de uma entrevista que lemos há anos de José Hartvig Freitas - filho de Lima de Freitas -, quem sabe, alguma proximidade que tivemos com Lima de Freitas, mas sobretudo com António Quadros, não terá sido indiferente...?
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* Ver em Monserrate - Uma Nova História, Livro Horizonte 2008, pp. 38 a 41, em especial na p. 40 a longa citação que fizemos de André Grabar, a qual começa assim: (...) Le cas de la troisième personne de La Trinité est intéressant. Pois ao contrário do que informa o autor a Pomba não foi a única representação, nem a única imagem que prevaleceu para lembrar (alegoria) o Espírito Santo.
E ainda um outro dos vários posts que já dedicámos aos estudos de A. Quadros