Quem estudar História com um mínimo de seriedade - como fizemos para o trabalho do mestrado - apercebe-se da evolução que a Humanidade foi (e vai) fazendo em termos de conhecimentos.
E como em todas as épocas esses conhecimentos passaram para as Obras de Arte: a qual não é senão um espelho da sociedade, embora, claríssimo, um espelho das suas vanguardas.
Sejam elas os artistas setecentistas e oitocentistas, criadores de imagens ou de sons: i. e., pintores, arquitectos, músicos, escultores, ou ourives... Mas também ainda, e valorizando com o mesmo espírito os autores que produziram ciência médica ou literatura, aquilo a que se pode assistir é ao facto de esses «autores-investigadores» terem posto em comum - e a favor da comunidade - o que foram conhecendo e produzindo: já que foi passado a escrito e tornado público.
No entanto, e voltemos ainda atrás, porque essas vanguardas, deve dizer-se, podem também ser autores mais antigos (inclusive membros do clero), cujos nomes não são os mais conhecidos; ou que também não se relacionam, de imediato, com a produção artística*. Como um Hugo de S. Vítor, ou um Vincent de Beauvais; um Santo Alberto Magno, um S. Tomás de Aquino... E a esta lista acrescentam-se ainda - L. B. Alberti e Albrecht Dürer - autores que fizeram progredir a Ciência, e ao mesmo tempo a Arte.
E «estacionemos» por aqui, pois Dürer é um dos melhores exemplos para aquilo que se quer dizer. Já que uma gravura sua (de 1514) conhecida como Melencolia I, tem sido sucessivamente estudada por vários autores, como C.G. Jung; diz-se no vídeo anexado - de Anne STEINBERG-VIEVILLE (autora que não conhecemos**). Ou, como o disse/escreveu, igualmente, Frances Yates - uma outra autora, de quem, neste caso temos a sorte de ter várias informações: alguém que também se referiu à Melancolia de Albrecht Dürer.
Aqui chegados, por uma via que, por opção, é demasiado linear: não só para não nos perdermos, mas também porque de Hugo de S. Vítor e Santo Alberto Magno à Psicologia, seja Freud ou Jung, qualquer esboço generalista teria sempre que ser imenso. Aqui, a partir deste ponto, lembre-se apenas que pelo meio há autores cujas vidas e obras podemos agora conhecer, embora alguns deles tenham sido condenados: por se terem atrevido a colocar questões, em assuntos que «misturaram», por exemplo, com a astrologia (ou com a magia), mas que hoje, nalguns casos, a Psicologia e as Neurociências conseguem explicar...
Em suma, e se lembrarem o post anterior, poderão notar que ainda queríamos voltar a Jacques Le Goff:
A um autor cuja obra é imensa, e que vai levar tempo a ser interiorizada, sobretudo pelos nossos «historiadores-professores»: cujas carreiras de pessoas mais novas (do que nós) estão para durar. Mas, como já atingiram os "tops" das mesmas (i. e., os «doutoramentozinhos das suas vidas»), dificilmente se actualizarão ou renovarão as disciplinas que estão a ensinar...
Acontece que o pioneiro Jacques Le Goff, que morreu há dias com 90 anos, teve o mérito de ter questionado, e completado vários conhecimentos da História: face a novas Ciências (como a Psicologia ainda é), servindo-se desta disciplina, reviu e reformulou a História que lhe tinha sido ensinada. E onde percebeu que havia incorrecções/incompletudes, que um olhar mais informado facilmente detecta.
Assim mostrando, como defendemos, que não há Arte «contemporânea» (dos autores que a criam), ou Design e Ciência - de hoje ou de sempre; e que pretenda incluir uma qualidade desejável - sem haver conhecimento da realidade para a qual se cria!
Mais, se nas aulas os alunos são convidados, como consta no enunciado dos seus trabalhos, a analisarem "A Realidade Sensível" de um espaço que os contém (ou de uma obra que possam ter nas mãos, e ainda «à frente dos seus olhos»); é porque esses conhecimentos - que o trabalho, forçosamente, primeiro lhes exige, também permitem depois apreender, convocar e exercitar novas informações.
Dito de outro modo, esses novos conhecimentos (e concretamente um "know how" dos procedimentos) irão, imediata e directamente***, aumentar a sua criatividade!
*Porque exactamente até hoje tem permanecido o enorme erro de se pensar que a Arte pouco tem a ver com a Religião. Mas claro que já vemos essa questão a mudar... (embora muito pouco) «sob o chapéu» da Antropologia!
**https://www.youtube.com/watch?v=zW7_zfANID4
http://annstein2.unblog.fr/2012/06/29/albrecht-durer-artiste-mathematicien/
https://www.youtube.com/watch?v=3tHHhJw2-jA
***Em suma, é impossível pensar que não sejam benéficos, para progredir no conhecimento, ou crescer na vida, nas carreiras e nos percursos que cada um escolhe, vários conhecimentos: os mais amplos que se conseguirem alcançar e reunir. E assim a Psicologia (e por exemplo também as Neurociências) cruza-se com a Ergonomia, com a Antropometria, com a Luminotecnia. E esta com a Matemática, que também é Geometria; e agora com a Filosofia... Etc., etc., etc.