Dizia alguém, há dias, como foi fantástico o sonho de António Quadros - e a sua concretização, quando actuou e com um grupo de pessoas fundou o IADE.
Dizia e com razão, levando-nos por isso a pensar em diferentes vertentes desse sonho.
Ou, melhor dizendo, nas facetas e obras de uma personalidade que foi extremamente rica, e que apesar de algumas vicissitudes, e de haver actualmente muitas faltas de atenção e incompreensões relativamente aos valores que criou, pela nossa parte, para estarmos hoje aqui a escrever isto, é porque lhe devemos imenso: e, exactamente, por algumas dessas suas «vertentes», diferentes e no plural, que não uma única!
Quando em 2002 a estudar Monserrate começámos a perceber a enorme importância histórica da questão do Filioque, e como a mesma estava relacionada com o povo Godo, foi quando nos virámos para uma obra de A. Quadros que António Ferro nos oferecera meses ou só alguns dias antes (já não me recordo?)*.
Depois, e embora isto tenha sido a maior das coincidências, mas é impossível não ver aqui um certo "simbolismo" (há quem lhe chame holismo e com esta palavra diga/prove como tudo está ligado), no facto do lançamento do nosso livro dedicado ao Palácio de Monserrate, ter ocorrido exactamente no IADE, em simultâneo e com vários factos e seus desenvolvimentos ulteriores (que nos trouxeram ao hoje, aqui e agora, i. e., ao mal ou ao bem em que estamos?).
Mas neste blog, em Iconoteologia - se é que os assuntos são separáveis - não é a escola que fundou, o foco do nosso interesse neste momento. Hoje quer-se destacar/lembrar o facto de A. Quadros não ter deixado cair várias temáticas, trazendo-as até hoje; ou até nós**.
Entre elas estão algumas referências a Joaquim de Flora, que já investigámos (não exaustivamente, mas apenas...) por outras perspectivas que não só as de António Quadros. Já tratámos também o facto de (A. Quadros) ter apresentado a questão das Figurae, mais especificamente os Círculos Trinitários de que já se escreveu.
Poderão ler aqui esse post, mas hoje acrescentam-se outras informações. É que se não sabemos (com todo o rigor***) se as referidas Figurae de Flora estiveram na base de alguma planta de igreja? O que aliás, prevê-se não ser tarefa muito fácil de detectar, já que esse design, no caso de existir - e porque o desenho original de Flora é pouco rigoroso do ponto de vista geométrico - então é difícil a descoberta ou o reconhecimento desse desenho. Quando muito, já nos apercebemos de algo bastante semelhante, que é o que está na Planta da que foi chamada Hagia Sophia em Constantinopla...
Depois, também em Florença há uma obra de Brunelleschi (não o Duomo) que deve ser lembrada: a igreja do Santo Spirito, projectada em 1436, em que pode, vagamente, notar-se no desenho dessa planta uma possível «filiação» nas referidas Figurae de J. de Flora.
Mas noutros casos, como é o do IDEOGRAMA que esteve na base do (ou se relaciona directamente com o articulado que ficou conhecido como) Credo de Atanásio, já encontrámos uma obra de Guarino Guarini que, sem dúvida provém da imagem abaixo:
Neste caso, é a página 36 de um trabalho de investigação de Edward Norman intitulado The Roman Catholic Church (edição da Thames and Hudson, London 2007),onde corrobora, exactamente, aquilo que defendemos na FLUL em Janeiro de 2005 (como a origem do Estilo Gótico deveria estar na questão do Filioque. Leiam o excerto:
Por fim esta outra imagem que de novo se publica, clicar para legenda,
e ler abaixo:
Nesta 3ªimagem constata-se que é a mesma estrutura, integralmente, da 1ª imagem, mas acompanhada de ornamentos (de contexto visual). Apresentado em 31.01.2005 na FLUL, na defesa da tese mestrado: porque se trata da base geométrica dos arcos que são comuns, ou os mesmos, quer em Monserrate, quer no Palácio dos Doges (Veneza) em que o palacete de Sintra - por influência directa de J. Ruskin sobre os arquitectos Knowles - se inspirou.
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*Ver em Portugal, Razão e Mistério I e II
**Como nesse caso concreto pudemos elogiar Maria João Baptista Neto, por nos ter apresentado um tema tão rico e tão interessante, como é o das Origens do Gótico: tema que, actualmente, seria bem útil que muitos mais o pudessem compreender. Pois significaria que podiam ir mais longe e assim saber das raízes de vários «distúrbios», altamente preocupantes, dos tempos que vivemos.
***Embora vejamos casos que estão lá muito perto...