A primeira expressão é de José Saramago, embora saibamos que, com imensa facilidade, é dita por outros, distraidamente...
Já a segunda expressão: "Porque o ver muito ensina" de Francisco de Holanda, foi escolhida por Jorge Segurado para epígrafe de um trabalho seu.
Jorge Segurado, alguém que terá tido, certamente, uma formação semelhante à nossa (em bastante melhor...), deve também ter percebido que a História da Arquitectura se faz a partir das obras, e não tanto a partir dos registos de baptismo, ou de outros actos que tenham ficado escritos das vidas dos artistas/autores? Talvez por isso a escolha feita (por J. Segurado?), a querer reforçar o maior valor da própria Obra; e a importância da capacidade de a saber ler, directamente?
É que aqui estamos, como aliás Fernando António Baptista Pereira nos ensinou (tão insistentemente, e aprendemos), muito mais do lado das obras - que foram expressão de um tempo e de um pensamento - do que das histórias das vidas dos seus autores. O que se continua a fazer (até quando?) na historiografia do IHA da Faculdade de Letras. Esquecendo-se que "Os homens passam e as obras ficam".
Ou ainda, protelando o que deveria ser a introdução de novas metodologias de investigação: i. e., feita em equipa. Equipas para as quais os historiadores contribuiriam, sobretudo, com os dados cronológicos e as biografias dos autores. Deixando aos que são mais experientes na compreensão das sínteses operacionais (com frequentes transformações das imagens), a tarefa de as estudar e interpretar.
Hoje, já que o Natal se anuncia muito antes de o ser: não só "Quando um homem quiser", mas quando os timmings do Comércio o impõem... Hoje deixamos a fotografia de um Obra cuja proveniência, autoria e datas, desconhecemos, totalmente. Mas, apesar de todas estas ignorâncias nossas, a imensa força com que é transmitida a principal mensagem contida na obra - o Credo Católico; essa mensagem impõe-se, deixando maravilhado (e esmagado?) quem souber ler esta obra.
Claramente, muito curioso para ir mais longe: a querer saber quem terá sido o autor de uma síntese tão criativa?
Enfim, quem foi o Artista tão hábil e capaz de transformar o Tema do Presépio - normalmente impregnado de um imenso bucolismo e naturalismo - numa verdadeira Obra de Arte? Onde o Simbolismo impera e é pedra de toque: o elemento essencial, quase a única chave para a compreensão e devida valorização (artística) deste presépio*?
Que nos recorda Jean-Claude Schmitt, e o que escreveu sobre: "L'Historien et les Images"**. Chegando depois a citar um outro autor - Jean-Claude Bonne - e as suas ideias sobre “a função do ornamento na Arte Medieval”.
É que melhor confissão da incapacidade dos historiadores para entenderem o que está nas Obras de Arte; ou o que foram, talvez temporariamente, obras feitas de «códigos» (necessários descodificar) para a possibilidade de leitura das imagens; como se sabe confissões assim, feitas com tanta clareza, são difíceis de fazer!
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*A lembrar a obra de Guarino Guarini de Turim, como se deixou em Monserrate uma nova história.
**Ver em Jean-Claude Schmitt, Le Corps des Images, Gallimard 2002.
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