Sim, referimo-nos a imagens visuais (e não sonoras), de um tempo em que falavam.
E se as imagens falavam, foi por se destinarem aos que eram incapazes de ler a escrita que hoje é a mais normal (fonética). Aquela em que, agora todos nós somos bastante competentes.
Porém, entretanto também passámos todos a ser, hiper-incompetentes, na leitura das mais simples imagens.
Lemos, talvez, os sinais de trânsito (?), porque aprendemos o respectivo código. Não o do "Exame de Código", mas uma espécie de gramática (ou um conjunto de regras) usadas que foram, para a constituição desse mesmo código visual.
Ou seja, houve uma lógica que presidiu à invenção e constituição das normas, e regras de funcionamento daquilo que é a condução: a que fazemos ao volante dos nossos carros, na estrada, com apoio de sinalização.
É aí, como todos sabemos, que é essencial conseguir fazer uma leitura rápida, dos avisos e acontecimentos, que podem surgir na estrada, aparecendo à frente de quem guia...
Agora - deixando de lado estas explicações e analogias com outros procedimentos -, lembra-se a reacção que tivemos, há anos, quando nos surgiram pela primeira vez, as imagens a seguir:
Começam por ser os detalhes de uma Patena francesa, em ouro cloisonné, do início do século VI (ver post nosso de 2019).
Quando a vimos, imediatamente percebemos a intenção do que parecem ser oitos colocados em diferentes direcções.
Foi porque identificámos os referidos sinais (os «8») que também nos ocorreu a imagem seguinte, semelhante, por ser constituida por dois círculos entrelaçados (com que, aliás, tínhamos começado a trabalhar quase desde o início dos nossos estudos *)
Acontece que na representação acima, e nas suas especificações, que são muitíssimo rigorosas - diagrama que mostra (...) dois círculos cujos centros passam cada um pelo centro do outro; se por um lado essa sua precisão, absoluta nos remete para a matemática; por outro lado também nos lembra uma expressão de Umberto Eco, que se referiu ao enorme rigor (posto na linguagem) e nas "subtilezas dos teólogos medievais".
Claro que - e ainda a propósito, mas sem sair deste mesmo assunto -, poderíamos ir buscar outras imagens como são por exemplo as "lunulae" de Leonardo Da Vinci.
Só que, bastante mais fácil, é irmos buscar a imagem seguinte, fotografada por nós, há anos, em Conímbriga. Em vez de irmos procurar as imagens reunidas por Martin Kemp, para um artigo que escreveu sobre a obra tardia de Leonardo Da Vinci (usando imagens obtidas no Arquivo Real de Windsor)
E da nossa fotografia (acima) podemos ainda destacar dois ideogramas. Talvez, segundo cremos, com significados muito próximos, ou quase sinónimos?
Na imagem acima - que é um círculo maior, escuro, contendo outros dois menores de cor clara, contrastante, e com metade do diâmetro - o que está lá é uma REPRESENTAÇÃO do INFINITO
E, no mesmo alinhamento, integrado no desenho do pavimento, à frente e atrás vemos dois círculos - que aparentemente têm a mesma dimensão - contendo, cada um, um hexafolio.
Neste caso, os círculos que se intersectam criam uma malha triangular (não o esuecer) que é também hexagonal, e vice-versa.
Está-se perante uma imagem poderosa: e não nos referimos, propriamente, à sua capacidade decorativa ou ornamental. Mas sim do ponto de vista geométrico. Já que é a geometria do Ad triangulum, capaz de gerar inúmeras formas, que associamos a sinais e ornamentos essenciais, de várias religiões. Desde a estrela judaica, à Trindade Cristã, incluindo alguns padrões da arte islâmica.
O Hexafolio é também um ornamento muito comum da arte visigótica, devendo acrescentar-se que Vitrúvio se referiu ao número seis (Livro III Cap. I), explicando que é "o número perfeito dos matemáticos".
Para mais (ou outra) informação, no google ou no bingo images, como fizemos, encontram-se inúmeras imagens, como a seguinte: com os dois circulos postos lado a lado, dentro de um círculo maior.
É um ideograma, ou sinal que abunda na Arte Cristã, mas que também é proliferante na Arquitectura. Já que gerou uma edícula, do estilo românico que perdurou. Tanto que é muito comum em obras românticas, assim como nas composições arquitectónicas exóticas e ecléticas.
Segue-se uma passagem de Descartes, sobre o Infinito (Deus):
God is the only thing I positively conceive as infinite. As to other things like the extension of the world and the number of parts into which matter is divisible, I confess I do not know whether they are absolutely infinite; I merely know that I can see no end to them. . . .5 [Descartes, letter to More, 5 February 1649, in Philosophical Letters, trans., ed. Anthony Kenny (Minneapolis: University of Minnesota Press, 1981), p. 242.] (**)