Muitas imagens da arquitectura foram «iconoteologia». Many images of ancient and traditional architecture were «iconotheological». This blog is to explain its origin.
1.2.25

Tal como se pretendeu fazer a partir de meados de 2005 (*), ora registado em letras minúsculas, ora grafado em letras maiúsculas, temos escrito - e continuaremos a escrever - sobre alguns dos Sinais do Espírito Santo na Arquitectura. 

(ver links no fim deste texto)

Acontece que um dos melhores exemplos do emprego «desses sinais» - por ter sido usada a imagem icónica da Pomba (**) - é o da Capela do Palácio Nacional de Sintra.

Desta obra medieval, considerada por José Custódio Vieira da Silva "...um dos espaços medievais melhor conservados em Portugal..." , escreveu este mesmo autor :

“A pintura a fresco que cobre todas as paredes da capela, apesar de se tratar de obra de restauro totalmente executada em 1939 (altura em que se retiraram outros elementos da capela, como a talha do altar-mor e uma tribuna na zona do presbitério), apoia-se em vestígios da decoração original, visíveis no fundo da capela-mor e sobre o altar do lado esquerdo do transepto. O tema, repeti­do à exaustão, é um número infindável de pombas brancas esvoaçantes, sobre um fundo de rosa forte e com um ramo de oliveira no bico, isoladas em quadrados dispostos em diagonal. Símbolo por excelência do Espírito Santo, essas pombas que esvoaçam nas paredes da capela parecem conjugar-se com o tema do Pentecostes do retábulo encomendado a Nuno Gonçalves. Porém, na representação aqui existente, é mais forte o apelo à pomba que, findo o dilúvio, retornou à arca de Noé com o ramo de oliveira, simbolizando, neste caso, a renovação da aliança de Deus com a humanidade purificada pela água regeneradora, episódio que, por sua vez, prefigura e antecipa o baptismo cristão.

De qualquer modo, e tendo em atenção os dados quer artísticos quer simbólicos, tudo aponta para que a pintura a fresco das paredes da capela se deva também a encomenda do rei D. Afonso V. É conhecida, como já se referiu, a ligação afectiva que este monarca manteve com o Palácio de Sintra, local onde nasceu e faleceu, pelo que a ele deve ter prestado uma especial atenção e cuidado. De modo particular, conhece-se o empenho do monarca em reestruturar a orgânica e o cerimonial da capela dos reis de Portugal, diligenciando obter, para o efeito, o cerimonial em uso na capela dos monarcas ingleses. O aumento da capela-morde Sintra e o revestimento cerâmico do seu pavimento, a colocação dos tectos mudejares e, por fim, a pintura integral a fresco das pare­des, consubstanciam e concretizam essas preocupações do rei D. Afonso V, cuja corte ficaria equiparada, também por esta via de brilho e fausto da capela palatina, aos das outras cortes europeias.”

Assim, na imagem seguinte (montagem nossa, feita propositadamente para este post) do lado esquerdo - está um excerto da pintura a fresco, como referida por J. Custódio Vieira da Silva.

E no lado direito está o que é para nós um curiosíssimo detalhe:

Aparentemente típico medieval, mas cuja invenção atribuímos a William Beckford.

Alguém que viveu no século XVIII e no XIX (1760 - 1844), tendo estado em Portugal por várias vezes, a última desde Outubro de 1798 a Julho de 1799, como informa Maria Laura Bettencourt Pires (**). 

Pombas-thisTICKET+capelaSINTRA-blog.jpg(ampliar)

Claro que em relação ao facto de atribuirmos a William Beckford a invenção (já no século XIX) das «mini-pombas» da imagem acima, inseridas numa grelha medieval, se o fazemos, é por sabermos da sua imensa cultura, imaginação e capacidade criativa em várias áreas.

Áreas que agora correspondem a especializações diferentes, nas nomenclaturas oficiais, sendo designadas por Áreas Científicas. 

Ou seja, da mesma maneira que escreveu pequenas peças musicais, ou fez contos e escreveu histórias, também na Arquitectura - tendo sido aluno de William Chambers - é visto em Inglaterra como sendo um (dos muitos que existiram...) Amateur  Architect.

O que nos obriga a abrir um parêntesis, por ser necessário dizer que se trata de um assunto que entre nós portugueses (incluindo entre os arquitectos) é praticamente desconhecido. Embora faça todo o sentido conhecer (ler aqui), já que os Amateurs, e muito em especial os ingleses, contribuíram para a forma como na actualidade «funciona» a profissão dos arquitectos.

E voltando ao assunto principal deste post, segue-se a fotografia original da Capela Palatina (vinda da p. 109, do livro de José Custódio Vieira da Silva), a partir da qual se fez a junção acima.

Image0249-e.jpg

Vindo depois a imagem de "This Ticket..." (abaixo),  que foi o bilhete para o direito de admissão a três visitantes, à propriedade de Fonthill Abbey, em 1823; quando William Beckford pôs à venda a sua casa-abadia, que tinha começado a construir ainda antes da última vinda a Portugal.

E que, ao regressar a Inglaterra em 1799, encontrou ainda em obra: num estado muito mais atrasado do que aquilo que esperava. 

Aqui, mais uma vez é Laura Pires que informa sobre a aceleração que logo depois veio a imprimir aos trabalhos, conseguindo que, rapidamente, pelo menos uma parte da casa fosse inaugurada. E depois aberta a alguns visitantes "...«raros apenas», que ele cuidadosamente seleccionava."      

Assim como - e aqui somos nós que o afirmamos - de um modo igualmente muito cuidadoso, William Beckford terá desenhado ele próprio, ou dado instruções a outros (para que o fizessem ao seu gosto), a composição visual seguinte:  a imagem a que chamamos "This Ticket"... .  Publicada também por Maria Laura B. Pires (ver op. cit., entre as pp. 208 e 209).

fig34.jpg

A autora que nos dá estas tão úteis e preciosas informações, não diz, pelo menos directamente, que a composição visual (acima) que W. Beckford inventou, integre elementos que tivessem ido de Portugal para Inglaterra (muito provavelmente, dentro da "black box" que foi a cabeça de William Bekford...).

No entanto, Maria Laura B. Pires dá muitas outras informações, nada despicientes. Como é o facto de  William Beckford ter descrito a capela do palácio da Vila de Sintra. De que estamos a escrever (e a pensar escrever ainda mais, oportunamente, com algumas informações de um artigo de Matilde Sousa Franco).

Mas, ainda deste livro sobre William Beckford, de Maria Laura Bettencourt Pires - o que seria para outras estórias (já que é necessário ir confirmar no local, previamente)  - Laura B. Pires também refere que o contrário, ou seja influências vindas de Inglaterra, também terão existido:

Isto é, que alguns excertos da «abadia de William Beckford» tivessem sido incorporados, em Lisboa, nas antigas cavalariças de José Maria Eugénio, Conde de Vilalva (ver op. cit., p. 259).

~~~~~~~~~~~~~~~~

(*) Numa investigação própria de um doutoramento...

(**) Ver em Palácio Nacional de Sintra, por José Custódio Vieira da Silva, IPPAR e Scala, 2002, p. 113. Mas, é importante saber-se porque dizemos "a imagem icónica da Pomba"? E a resposta é: porque conhecemos um texto de André Grabar relacionado, exactamente, com as possibilidades de representação do Espírito Santo; i. e., a Terceira Pessoa da Trindade, que é como começa o excerto a que nos referimos. Já o citámos várias vezes:

“...Le cas de la troisième personne de La Trinité est intéressant. A la période qui nous concerne, il y avait je pense, un seul symbole du Saint-Esprit, la colombe. Elle apparaît comme nous l’avons vu, au Ve siècle, au moins dans une scène du baptême du Christ (sur une mosaïque du baptistère des Ortodoxes à Ravenne), et dès le début du Ve siècle,  sur le trône de Dieu (mosaïque de Santa Prisca, à Capua Vetere). A part quelques rares répresentations de la Trinité, les imagiers de la fin de l’Antiquité ne paraissent pas s’être posé le problème d’une image du Saint-Esprit qui tiendrait compte de tout ce qui, selon les théologiens, définit sa nature, et en particulier ses relations avec le Père et le Fils. Cette partie du Credo du premier Concile Œcuménique n’a pas trouvé d’écho dans l’art contemporain, et cela devait être souligné, car cette lacune est significative de la distance qui séparait la grande théologie de l’époque de l’iconographie contemporaine. Mais ce qui advint de l’unique schéma iconographique alors utilisé (la colombe) est aussi curieux : Cette allégorie provient bien sûr du texte évangélique qui décrit le baptême du Christ ; il faut cependant reconnaître qu’elle est archaïque, surtout si on la compare aux autres images théologiques, et qu’elle est plus proche des tout premiers symboles chrétiens, comme l’ancre et l’agneau. Ces allégories anciennes se trouvèrent en général remplacées par des figures humaines à partir du quatrième siècle ; mais la colombe du Saint-Esprit resta, et sert encore aujourd’hui à désigner la troisième personne de la Trinité. Les imagiers ont du tacitement reconnaître que le sujet allait au-delà des moyens dont ils disposaient. Néanmoins, même en conservant la colombe symbolique, les artistes auraient pu montrer la procéssion du Saint-Esprit, a fin de traduire le Credo. Ce fut fait d’innombrables fois au Moyen Age. Dans combien de cas voit-on la colombe quittant la main de Dieu Père ou placée de façon à exprimer le filioque c’est-à-dire que le Saint-Esprit procède tout à la fois du Père et du Fils! L’Antiquité semble-t-il, n’a jamais effleuré le sujet…"

(ou mais desenvolvido, legível também aqui)

(***) Ver em Maria Laura Bettencourt Pires, autora de William Beckford e Portugal,edições 70, Lisboa 1987, ver na p. 49.

Já escritos com o titulo Sinais do Espírito Santo na Arquitectura

Post de 6.11 de 2010 - Sinais do Espírito Santo na Arquitectura... - Primaluce: Nova História da Arquitectura (sapo.pt)

Post de 29.1.2025 - SINAIS DO ESPÍRITO SANTO NA ARQUITECTURA - Primaluce: Nova História da Arquitectura (sapo.pt)

link do postPor primaluce, às 12:00  comentar

 
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