Ontem este post de Luís Lobato de Faria fez-nos reagir, lembrando a existência da obra de Jean-Marie Mayeur.
Escrevemos:
"Se vir no meu livro dedicado ao Palácio de Monserrate, é feita alusão ao desenho de diferentes arcos. Com o tempo apurei ideias e acho que se deve ler bem o que escreveu Vergílio Correia sobre o arco ultrapassado na cultura visigótica/moçárabe. Isso não é assim "tiro e queda", formulário visual do islamismo. Melhor, é essencial ler ainda Jean-Marie Mayeur na Histoire Du Christianisme, na Antiguidade Tardia. Tenho essa citação num post, vinda do que iria ser o meu doutoramento..."
Sabemos (lembramo-nos) que já referimos Jean-Marie Mayeur, assim como um outro autor imprescindível, por ser complementar para estes temas, que é André Grabar.
Para já - e dada a permanente falta de tempo (graças às desvalorizações que a UL entendeu impôr aos nossos estudos...) - ficam dois posts em que referimos o autor francês, e a sua importância para o conhecimento da História Religiosa da Peninsula Ibérica
1. Em Primaluce ver o post de 11.1.2020: Até à exaustão - como diziam os nossos alunos - aqui vamos tratar "the interlocking arch motif": - Primaluce: Nova História da Arquitectura (sapo.pt)
2. Em Iconoteologia ver um post de 31.10.2018: Mértola - e o muito (é imenso!) que vem a propósito... - ICONOTEOLOGIA; ICONOTHEOLOGY (sapo.pt)
Por fim chama-se a atenção para o que está escrito (acima): "Flights of inexhaustible imagination transform the interlockong arch motif into ever more novel forms." (**)
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(*) Mais do que implicar vários conhecimentos, deve-se dizer que implica, ou necessita de imensos conhecimentos, uma sabedoria aparentemente infindável. Porque se é preciso perceber o «mix religioso» (em camadas cronológicas diferentes, mas, talvez também simultâneas) que aconteceu nas áreas que o Luís está agora a querer estudar (com um esforço de qualidade que é notório, merecedor de elogio e respeito), o melhor, essencial, é aprofundar os conhecimentos de História. Concretamente a História religiosa desses territórios. Da mesma maneira que nós percebemos e aceitámos, já há anos, a designação ICONOTEOLOGIA, quando a encontrámos pela primeira vez.
E está aqui, tendo sido escrito em 23.11.2011:
"Glória Azevedo Coutinho (...) tem avançado no conhecimento e «des-construção» da arquitectura antiga, vista como Gótica. No novo estudo (doutoramento)pretende abordar, à semelhança do que sucede hoje, a síntese multidisciplinar da arquitectura. Como a Teologia e as Artes Liberais estiveram na base da Iconografia Cristã..."
Um pouco mais tarde encontrámos na Biblioteca da UCP em Lisboa (BUJPII) um pequeno livro intitulado: Cultura Religiosa en la Granada Renacentista y Barroca. Estudio Iconologico(Excerpta de la Tesis Doctoral); Facultad de Teologia, Granada, 1988, um trabalho de Francisco Javier Martinez Medina.
A partir desse momento não só captámos a ideia do título -Estudos Iconoteológicos- como imediatamente adoptámos e passámos a usar a palavra Iconoteologia. Palavra que, e como tantas vezes acontece, é tão explícita que facilita a comunicação da ideia que se quer transmitir. Por outro lado, não parece que tenha direitos de autor? Embora seja interessante saber quem parece tê-la utilizado primeiro:
Isto é, acontece que ainda antes do título escolhido por Francisco Javier Martinez Medina, já um outro autor (em cujo blog fizemos leituras e deixámos informações) tinha escolhido a tão expressiva e óbvia palavra - ICONOTEOLOGIA:
Foi o Pe. Eugenio Marino († 3.XII.2011)**, umdominicano da Igreja de Santa Maria Novella de Florença, que morreu há cerca de um ano.
No Boletim Dominicano de Janeiro-Fevereiro de 2012 é-lhe feita uma referência, em que é destacado pelo uso que fez da expressão«Icono-teologia»: “Possiamo dire che nella sua esperienza culturale ebbe quasi una folgorazione quando si avvicinò al mondo dell’arte analizzandolo sotto l’aspetto filosofico-teologico per il quale aveva compilato il vocabolo Icono-teologia."
(**) As imagens vêm de Moorish Architecture in Andalusia, por Marianne Barrucand e Achim Bednorz, Taschen, Colónia 1992, ver p. 116.
Note-se ainda que Marianne Barrucand colaborou em Moyen Âge Chrétienté et Islam, dirigido por Christian Heck, Flammarion, Paris 1996.
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Não se devendo esquecer nesta temática - em que a religião é preponderante (pois motivou a maior parte da produção visual hoje chamada Arte) - uma frase de Abby Warburg.
Desejando ele que, no futuro, "...a História da Arte e o Estudo da Religião partilhem uma bancada no laboratório da ciência iconológica da civilização".