Não era suposto fazer este desenho.
Mas ainda bem que o fizemos, porque ... as usually

Ele trouxe-nos novidades, ou se aprendeu mais qualquer coisinha: sobre as imagens da arte, e neste caso sobre as formas da arquitectura. E isto apesar de alguns erros.
Pois não é apenas pelo erro mais nítido que o desenho tem (esse relaciona-se com os nossos nistagmas*); mas, para quem sabe geometria, pelos outros erros aparentes - que até não são bem erros -, mas mais a constatação da existência de várias «decisões conceptuais». O que se detecta que aconteceu neste caso, quando o nosso objectivo é copiar, ou recriar aqui, a imagem de uma janela que sabemos existir na zona do Chiado (concretamente no que foi o Palácio dos Duques de Bragança).
Em conclusão, o que acima estamos a chamar erros, não são distorções do olhar de quem fez o desenho, mas sim distorções ou desvios propositados, e que por isso podemos chamar-lhes, globalmente, uma intenção conceptual. Seriam, caso fossem erros, muito menos fáceis de se detectar ou perceber.
Porque o modelo real, e aqui nesta situação foi mesmo real..., mostra-nos que foram usados truques no desenho da janela- Talvez para a adoçar?
Perguntamos, pois seria, se fosse correcto, o tal "pointed arch", que foi visto como inconveniente, pelos classicistas românticos**. Os que acusavam o Gótico de ter formas bárbaras: concretamente, demasiado pontiagudas

E ao tentarmos desenhar a partir de uma fotografia com perspectiva, como sempre sabemos que vale a pena fazer contas, para encontrar, não a medida certa, mas a proporção. Duas coisas que são diferentes, e que muitas vezes são esquecidas...



Assim, e de acordo com esta nossa metodologia experimental, tendo sempre em consideração por um lado:
1. o rigor da geometria - que devia funcionar como a gramática e a lógica que gerava as formas; e ainda
2. os significados (por vezes também rigorosos, ou unívocos***, que eram associados a essas mesmas formas;
Deste modo, e tendo presentes esses dois considerandos, naturalmente só pelo desenho se podem compreender os objectivos dos criadores, que lidavam (ou projectaram) com imagens de génese medieval.
Se num dos nossos últimos posts escrevemos isto, chamando a atenção para o facto de as imagens anicónicas, serem vistas como simplesmente geométricas, e portanto insignificantes; na verdade também sabemos de quem tenha associado Amor e Geometria.
Porquê? Por uma simples razão: porque a Geometria pode falar!
E falou, falou mesmo muito alto, como também James Ackerman estudou esta questão a propósito da Catedral de Milão. Ao registar (segundo pensamos ele não compreendeu completamente) o que poderia ser uma obra Ad triangulum ou Ad quadratum.
Acontece que na janela (acima), pelo menos intencional, na visão que cada um captava - e na luz que por dentro se obtinha - essas duas «regras» ou «estruturas essenciais do universo», o Ad triangulum e o Ad quadratum, estiveram presentes:
Legíveis como alegorias (alusões ou mnemónicas) que, para quem sabia dessa questão, dessa maneira eram lembradas
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* Nistagmas são movimentos involuntários dos olhos, geralmente associados a vertigens
** Em inglês, não esquecendo que para Monserrate Uma Nova História muitas das nossas investigações foram feitas sobre bibliografia inglesa - onde várias vezes se aborda esta problemática. Não esquecer também que muitos românticos (talvez ainda mais românticos do que os classicistas) viviam apaixonados pelo Gótico, sendo verdadeiros medievalistas
*** Univocidade, note-se, que aqui queremos dizer como sendo o contrário de polissémico: o que embora possa ter um sentido lato, que não é ambíguo.