... num quadro de Álvaro Pires de Évora.
Claro que logo que os vimos (os arcos entrelaçados) ficámos fascinados. Por se perceber a preocupação do autor em comunicar algo mais; concretamente o contexto teológico. Se quisermos, foi como uma adjectivação que se entendeu dever fazer, relativamente à sua própria fé. Ou, concretamente, ao contexto da Fé Cristã*, em que esta obra se posicionava.
Depois, pelo nosso método experimental, desenhámos por cima de uma cópia que se tinha impresso. Mas, claro, não é a mesma coisa... (e era só experiência como nalguns escritos/desenhos exploratórios de Leonardo da Vinci)
Já que no desenho descoberto (abaixo) - i. e., sem o papel vegetal (como acontece acima) - os arcos quebrados, menores e resultantes das intersecções dos círculos, ainda esses têm mais detalhes, que eram igualmente, falantes**.
Dentro de cada «meia mandorla», que rectificada seria um triângulo equilátero, ainda estão desenhados, aquilo que - para os referidos triângulos - os geómetras chamam apótemas.
E desse modo, ao encontrarem-se no centro do dito triângulo, desenham um Y, que também foi representativo da Trindade, e de Cristo.
Pode parecer árido, ao ser explicado desta maneira, mas em desenho tratam-se de formas que enriquecem imenso as composições, e que, por seguirem regras da geometria, acrescentam sempre um rigor visual que é também harmonia formal. Ou - aquilo que verdadeiramente são - concordâncias geométricas.
Estas imagens são materiais, ou se quiserem «ingredientes visuais», também altamente polissémicos. Que, para os antigos (e disto não temos dúvidas, referimo-nos ao clero) seriam certamente falantes.
Já que os saberes ou as ciências, desde Martianus Capella, Alcuíno (de York) e depois ainda desde Hugo de S. Victor, funcionavam muito mais unidos do que hoje; isto é, não eram disciplinas avulsas
E mais ainda: não é por acaso, de todo, que a Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, no volume 2, sobre as Artes Liberais, a dada altura especifica (algo que desde 2002 nunca mais esquecemos):
"Durante a escolástica, as artes, o septívio, não foram estudadas por si mesmas: eram vias de acesso à Sagrada Escritura"***
Para concluir, como no Credo, onde Carlos Magno obrigou à inserção da partícula FILIOQUE, é isso que se pode ler nesta Aura de Nossa Senhora, atribuída a Álvaro Pirez
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*Que Cristianismo, que religião, ou, em que região da Europa, o encomendador se posicionava.
**Quem saiba geometria, ou tenha uma boa memória visual, pode reconhecer nestes arcos a mesma organização, ou a mesma estrutural visual, igual ao que se passa na fachada do Palácio dos Doges de Veneza: ou até noutros edifícios desta mesma cidade.
*** A frase acima é uma afirmação essencial, impossível de esquecer. E que por isso obriga a rever, várias ideias, demasiado feitas, da historiografia da arte. Ver op. cit., coluna 1417.