Em nossa opinião estas arcarias são «altamente falantes», e portanto ICONOTEOLÓGICAS.
E se por uns são atribuídas à Cultura Islâmica, outros referem tratar-se de uma obra românica.
Para nós faz mais sentido, já que este tipo de arcos entrecruzados em geral é associado ao Romanesque; que é o equivalente do nosso estilo Românico, embora em Portugal não tenhamos conhecimento da existência de arcarias com este desenho/configuração.
Como defendemos, desde 2001 - e perante as informações que o estudo do Palácio de Monserrate nos «deu» -, alguns povos, em geral os designados bárbaros, que quiseram entrar e fixarem-se no antigo Império Romano; esses povos serviram-se de sinais visuais, tradutores das ideias teológicas em que acreditavam, tendo originado assim iconografias muito próprias*, que usavam para marcarem as suas obras.
Tratavam-se de sinais que os identificavam enquanto povo(s), com um património cultural próprio, mas simultaneamente na sua vontade, que é notória, de pertença e integração numa região geográfica.
A região que, depois das decisões dos chefes políticos (o Imperador Constantino), se estava a cristianizar, cada vez mais (como se sabe, e veio a acontecer).
Todas as fotografias seguintes vêm da wikimedia commons, pertencem a Diego Delso**, e foram extraídas da primeira sendo todas adaptadas para este post:
License CC-BY-SA
Acima, no rectângulo assinalado é claríssima a vontade de leitura de uma sobreposição. Para fazer passar (e portanto para se ler) - sublinhadíssima pela incisão de um sulco na pedra - a ideia do cruzamento de círculos.
Cruzamento que numa escrita ideográfica, permitia traduzir a ideia da proveniência do Espírito Santo, em simultâneo, do Pai e do Filho. Ideia que ficou registada para a História como FILIOQUE***.
Por hoje, e para acabar - como se Arquitectura não tivesse sido no passado, mais do que é agora, uma ARTE VISUAL - repare-se na simbiose (falante, pois claro) emtre um arco ultrapassado e um arco quebrado
E enfim, sendo tanta a informação que se pode retirar de uma única fotografia, de uma série de arcos,...
o melhor será continuar depois!
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*Como é o caso das chamadas Bandas Lombardas; e neste exemplo trata-se do que também é conhecido como Normando-Gothico
**Autor original: "Credit me as the original author and use the same license. To do so add "Diego Delso, delso.photo, License CC-BY-SA" legibly next to the image."
***De tudo isto já escrevemos, e não foi pouco, no nosso livro dedicado a Monserrate - Monserrate, Uma Nova História - como se pode ver no Cap. I, pp.27-49, no Cap. II, pp. 60-74, no Cap. III, pp. 106-123, e na Sintese Final pp. 156 em diante.