Já que, pareceu-nos, mas há que ler melhor, porque este artigo sobre museologia também tem muito do que foi a transição desde um tempo de ideias antigas e mais tradicionais relativas à Religião (e sua Arte), até aos dias de hoje:
Como de 1917 se foi chegando a 2019. Cerca de 102 anos da história de Fátima, que neste contexto muito específico, também nos dão uma imagem do país; concretamente do ponto de vista artístico.
Aliás, é uma das frases que se pode ler nesse artigo: “...inesperadas ligações entre diferentes estéticas.” Pois, também não admira! - dizemos nós - , porque foi o que mais aconteceu nestes últimos 102 anos.
E sim, alterações estéticas, que se podem pôr em sequência, sendo interessantíssimo vê-las a evoluir. Concretamente a simplificação das imagens, o passar a um híbrido em que algumas partes ainda se lêem (e outras se tornam quase ilegíveis...)
E isto, ou este assunto posto assim (quase como se a História tivesse sido um work in progress) toca-nos muito especialmente, lembrando o que era o plano da nossa tese de doutoramento, e o respectivo desenvolvimento que ainda não esquecemos.
Ou seja, como por um caminho de 2000 anos – ou melhor, desde 325 d. C à época actual - em sucessivas transformações da História, se tornou notório o modo como foram «secando» as fontes* da Iconografia Cristã.
A ponto de alguém – neste caso Alain Besançon (e concretamente em 1994, por isso a imagem abaixo, que é aqui associada) – se referir a uma proibição da imagem** (L'image interdite ).
E aqui faríamos ainda uma outra nota de rodapé - mas há que economizar, e avançar mais depressa - dizendo simplesmente que (é a nossa opinião), em geral, e retirando casos específicos, mais conhecidos, as imagens não foram proibidas, censuradas ou afastadas.
Segundo cremos - e na aproximação temporal àquilo a que se chama Arte Contemporânea, foi «a evolução do mundo», e das ideias, que prescindiu do seu emprego.
Não as quis mais, pois em grande parte a Cultura Ocidental - onde essas imagens nasceram (por terem sido necessárias) - ; a nossa cultura laicizou-se. E nesse processo (de laicização) muitas das referidas imagens morreram.
Mais, abreviadamente, considera o autor (Alain Besançon), que inclusivamente se tratou de uma evolução/progressão em direcção a um iconoclasmo crescente.
Claro que aqui continuamos no simples Parecer (deixado logo na primeira linha), porque, simultaneamente, também nos parece que o dito Iconoclasmo, tantas vezes, é só (ou sobretudo) aparente:
Insiste-se: É que por muitos esquecimentos e desconhecimentos, também ainda há imagens que, para a maioria de nós, os seus referentes, são, simplesmente, insignificantes e abstractos.
Isto é, os supostos referentes – ou o significado de cada palavra (se se tratassem de textos escritos) – nas alusões que essas imagens fazem; elas, as referidas alusões, por não serem tão directas, nem tão eficazes, quanto conseguem sê-lo as imagens a que chamamos naturalistas, realistas (ou até designamos por icónicas); por isso são supostas insignificantes. O que pode não ter acontecido... (i. e., não ter havido vontade de abstracção)
Concluindo, e desta exposição em Fátima que não fomos ver, relativa a um arco de tempo em que muito mudou (concretamente na Arte); sobre o que se passou nessa evolução, claro que continuamos sem respostas definitivas: cheios de dúvidas...
Parecendo embora, ser este mais um exemplo, da transição de um tempo em que a Arte se fazia de imagens com «referentes de tradução directa»; para um outro tempo em que a imagem só aparentemente é que é abstracta***.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
*Quer as motivações para fazer as obras, quer os motivos (desenhos, ornamentos) para pôr nas mesmas.
**E claro que escrevemos isto por pensarmos que A. Besançon não viu, em muitos exemplos, imagens que de facto existem, mas que para ele não têm significado; e portanto, como se não existissem, não conta com elas e não as analisa. Mas, casos há, em que por vezes os autores se referem a imagens geométricas. Servindo este epíteto apenas para dizer que há superfícies preenchidas; embora isso, ou o nada, fosse quase o mesmo, para o autor que escreveu.
Do que lemos, A. Besançon supõe-as completamente abstractas, por não saber de certas correspondências, que até já no século V-VI tinham sido mencionadas pelo designado Dionísio, o Pseudo-Areopagita . Mais um, ou outro sub-tema desta enorme e complexa questão, de que já escrevemos, várias vezes.
*** Como se fossem arbitrárias as significações que lhes atribuem; houvesse uma total abertura na exegése (por não haver correspondências únicas), ou, por fim, como se nunca tivesse havido alguma correspondência entre imagem e ideia.