Como parece poder concluir-se de um livro que nos chegou às mãos. Ou, sobretudo do Programa Visita Guiada da RTP2, como aqui podem ver.
Sabemos que não são muitos os que aqui vêm, e embora tenhamos criado este blogue para divulgar a noção de que muitas imagens da Arte são de origem religiosa cristã - e por isso adoptámos esta designação (ICONOTEOLOGIA) inventada pelo Pe. Eugenio Marino. No entanto, o nosso primeiro blog que foi PRIMALUCE, esse continua a ser mais conhecido e mais visitado.
De qualquer forma este blog já existe desde 2012, com o propósito de divulgar Iconografia que é empregue na Arte, e cuja génese temos vindo a encontrar, directamente relacionada com textos da Teologia Cristã.
Podem ser textos bíblicos, ou excertos da Patrologia (ver este exemplo do século V-VIº), mas também orações (o Pai Nosso, o Credo) cujas palavras desenharam não apenas o imaginário mental - dentro da "caixa negra" que é o cérebro de cada um -, mas que também foram adaptados, e se podem ver em inúmeras obras realizadas. Pois foram transpostos para as mais variadas matérias e suportes, e nalguns casos com essas imagens a funcionarem como verdadeiras legendas.
Assim hoje temos centenas de imagens (algumas postas on line, várias fotografias, mas também muitas que as desenhámos); em resumo, inúmeras imagens difíceis de organizar por categorias.
Isto é, difíceis de separar segundo as categorias, hiper-delimitadas e a corresponderem às áreas cientificas que estão definidas pela Agência A3ES. Ou, como também pretendia, muito «metodologicamente», o nosso orientador do doutoramento!
Deste modo temos que dizer que a palavra Heráldica podendo parecer uma solução simples, para designar/nomear essas mesmas categorias, é em simultâneo demasiado redutora. Porque irá afastar (atirando para o lixo, ou para que outra área?) muitos materiais iconográficos que continuam livres. E que continuarão a circular e a serem aplicados, nas mais variadas áreas da «comunicação visual» (sem limites, e sendo ao mesmo tempo muitíssimo polissémicos...).
Isto é, da comunicação visual que se vai fazendo através de sinais que não correspondem a sons ou a fonemas.
Como lhes chamamos desde 2002, muitos desses sinais postos na Arte - e principalmente na Arquitectura, em que este tema nos interessa (sublinhe-se) - esses sinais eram como IDEOGRAMAS. Ou seja, tinham alguma correspondência a ideias - e não a sons - como acontece com as palavras.
E já agora, acrescente-se, mesmo que esses ideogramas estivessem em obras gráficas, com dimensões da ordem dos 2-3 milímetros, ou até menos, desde que fossem visíveis; mas podendo, em alternativa, ir até aos mais de 60 metros, como têm os arcos quebrados do Aqueduto das Águas Livres, no Vale de Alcântara.
Assim no fim deste post poderão perguntar-nos - e é possível, pois talvez já se tenha dito assim...? - se os Arcos do Aqueduto verdadeiramente, são mais "estruturais" ou mais "heráldicos" ? E na verdade (para mim) essa resposta fica dificílima...
Porque D. João V fez o Aqueduto*, numa época em que já se conhecia o sistema de vasos comunicantes. Será que o fez sobretudo por uma questão de visibilidade, que quis dar, ao Arco Quebrado, e às formas da arquitectura gótica? Formas que passaram a empregar-se, com enorme frequência, na Inglaterra protestante (e é chamado Revivalismo do Gótico).
O que, como supomos, não aconteceu por uma razão de moda, e à semelhança dos fenómenos da actualidade - qual cansaço em relação aos estilos anteriores... -, mas sim por razões de identificação religiosa** (separando os países que seguiram as ideias de Lutero, para a necessidade de Igreja se "reformar", dos países que seguiram Roma na designada Contra-Reforma).
Voltamos à pergunta do título:
Será tudo Heráldica? Ou estamos perante Sistemas de Sinais que devem ser mais estudados e conhecidos, já que existem em diferentes contextos, ou «linguagens»?
Depois de estudados, e se for necessário (?), podem então ser arrumados em classes e categorias...
*Só que os referidos Arcos, e pela menor agressividade (sísmica) que o terramoto de 1755 teve no Vale de Alcântara; o Aqueduto por ter ficado quase incólume, veio assim a contribuir para se reforçar, ainda mais, a noção da capacidade de resistência estrutural do arco quebrado.
**Mas tornando-se, nalguns casos, posteriormente, num fenómeno de moda. E de tal modo, que ainda agora a Historiografia da Arte considera (e referimo-nos em especial ao Revivalismo Gótico), um típico fenómeno de moda. Não tendo (ainda) colocado a questão, ou a hipótese, de alguns revivalismos se relacionarem com "expressões nacionais"...