...e se não estou a ensinar é porque não querem!
Ou será que alguém na nossa situação – com mais de 40 anos como docente de uma escola de Design - ainda um dia vai ter que explicar tudo isto, «tintim-por-tintim»? (qual tribunal da inquisição?, e nele provar, diferentemente do que «se aceita» em História da Arte, na FLUL, que as imagens têm a capacidade de falar...)
Como as imagens - e os esquemas desenhados, como aprendido na ESBAL - que as pomos ao serviço da Arquitectura (bem como do seu desenho e concepção), podem reflectir e traduzir o Pensamento?
Como num projecto as imagens justificam, bem antes de se fazerem os cadernos de encargos, ou de existirem as medições e os orçamentos; como elas justificam e dão todo o fundamento aos milhares ou milhões de euros que se hão-de gastar, numa qualquer edificação? Ou numa obra de urbanismo?
Se as imagens têm esta capacidade decisória para construir o futuro (*) - em projectos, em planos territoriais e de ordenamento -, porque não podem essas mesmas imagens ter a capacidade para explicar/relatar, historicamente, as diferentes mentalidades (no plural, porque houve várias) que existiram no passado?
Será que ainda vou ter que traduzir este texto fantástico de Rudolph Arnheim (ver imagem abaixo**)?
Texto onde explica, no fim, na frase que sublinhámos, que quando há desenhos que são IMAGENS MENTAIS (ou relatos de processos de pensamento apoiados nas imagens), que esses materiais são bem-vindos. E mais, que se deseja (altamente) que não sejam nem perdidos nem desprezados, dada a sua «fragilidade»...
Será que teremos ainda um dia, de provar tudo isto?
Será que ainda vamos ter de explicar que em geral – numa língua com base na geometria (língua que existiu, mesmo que informalmente) – que o triângulo foi usado para designar a Trindade Cristã, e que o quadrado (numa «lógica muito inesperada», por ser três mais um), significou a Virgem, a Mãe de Deus, que frequentemente era designada por Théotokos? (***)
Será que ainda vou ter que explicar/fundamentar toda a produção, «produzida» a propósito do Palácio de Monserrate? Fabricada/produzida» então (entre 2001 e 2004) com imenso estudo é verdade. Mas sobretudo com a liberdade e a espontaneidade, de quem já tinha mais de 25 anos de vida profissional? E, em que cada projecto (note-se, porque isto acontece na vida de todos os arquitectos projectistas...) acaba no fim com a assinatura do autor, aposta num Termo de Responsabilidade?
Terei que provar toda a (minha) honestidade posta nos estudos feitos a propósito de Monserrate?
Enfim, perante tanta justificação (quiçá necessária?), aqui tenho mesmo que me lembrar de Rogério Mendes de Moura, o meu Editor (Livros Horizonte), que, pediu-me para retirar do livro a maioria das chamadas notas de rodapé. Porém, na sua opinião, essa teria que ser uma tarefa bastante cuidadosa, pois para si - como me fez ver - algumas dessas notas eram, não a essência, mas, considerava-o, um dos aspectos positivos e originais do trabalho que foi realizado.
(*) Pessoalmente reconheço-a - e acho que essa capacidade de desenhar/designar o futuro, julgo, é uma característica da maioria dos Arquitectos e dos Designers? Mas, pode ser que muitos outros, sobretudo nos Institutos de História da Arte, não a reconheçam? O que naturalmente nos leva a outra pergunta, e esta boa para Reitores:
"Para que existem cursos e até mesmo departamentos de Arte, em Escolas Superiores e em Universidades se o Estatuto que conferem à imagem é de absoluta menoridade? Como se as imagens nunca fossem falantes... Até mesmo as Imagens (ditas) abstractas, como é para a maioria de nós todos o alfabeto e os caracteres do chinês, do japonês, do coreano...?"
(**) Extracto obtido em google books
(***) Como deixámos no nosso trabalho. No que foi uma via em direcção ao que muito mais tarde (século XIX) veio a ser a sua definição/consagração (dogmática) como Virgem Imaculada.
Ver ainda aqui uma selecção Google