Etimologicamente (falando), significa a Construção Principal.
Porque Arqui ou Arche é principal, e Tectura, tal como Tectónica é construção.
E aqui podemos perguntarmo-nos: "Porque é que havendo tantas construções, há umas que são principais? O que será que as torna, ou as tornou principais?" Qual a diferença?
Há uns anos, se fosse dentro das aulas, perguntaria aos alunos, porque é que determinados objectos os fascinavam mais do que outros, a ponto de dizerem (e se expressarem até com alguma emoção): Professora, veja a categoria! Isto é dezaaaiiinn. Vê-se mesmo..., ... à distância! Não 'tá a vêêêrr, professora?
Perguntávamos-lhes: Porquê? Insistentemente, tentando que se expressassem e que verbalizassem, com a maior clareza que conseguissem - Porquê o atributo? Porque é/era Design (o que lhes aparecia como tendo mais qualidade)?
Insistíamos para que chegassem às palavras, racionalizando o que estavam a ser (apenas) emoções. Pois por muito que sentissem, e ainda bem que sentiam - pois já havia essa base comum para se poder trabalhar -, era essencial, portanto, pôr o tema/assunto ao nível da razão. Isto é do RACIONAL e do INTELECTUAL, encontrando o porquê de tanto fascínio?
E assim, aqui neste texto, passamos agora outra vez à palavra Arquitectura, que ficou acima em título:
Não sei se foi deste modo que se chamou escultor ao que sabia esculpir os materiais? Insuflando-lhes a capacidade de darem alma e sentimento a esse material, tornando-o capaz de ser muito mais do que uma simples imagem em volume?
Acredito que possa ter sido, assim como ao verdadeiro pintor, chamado desse modo, por ser capaz de animar (dar alma) às formas que desenhava e pintava...? Como acredito que, do mesmo modo, se possa ter chamado architectore, ao que «arquitectava».
Embora esta designação - e ao vivo -, eu só tenha tido a imensa sorte de a ter encontrado, em Portalegre (no chamado PALÁCIO AMARELO), inscrita numa placa de pedra.
CIVITATES ARCHITECTORE
ANNO DOMINI
1803
Terão aqui chamado architectore ao civitates (cidadão, portanto não militar) Inácio Caldeira- pergunto eu - por lhe reconhecerem uma habilidade maior, e a capacidade de fazer construção, digna de ser chamada Arquitectura?
Ou seja, por ter posto a falar as formas e os elementos construtivos, como as simples superfícies de tectos, de paredes e de pavimentos; mas também com esses todos os outros elementos que são necessários, porque suportam essas mesmas construções?
Já que em geral, e em cada obra, o Architectore pôs o seu trabalho a falar pelos donos das casas. Que é como quem diz, a engrandecê-los a eles, aos donos, e ainda às casas?
Isto é, a falar pelos que tinham pago ao referido Architectore , o seu trabalho. Cujo objectivo e tarefa principal, seria a de lhes enobrecer a Casa (de família), o Solar, a Mansão. Ou se quiserem, numa outra palavra/expressão - o Espaço Palatino de que eram proprietários, e onde viviam*.
Mas, estamos ainda interessados em dar mais informações aos leitores: Neste caso, como uma peça tão pequena - que é geralmente designada Edícula (como um Nicho) - pode ser considerada, se quiserem, a base de toda a Arquitectura (note-se, no sentido falante que estamos a defender e justificar).
Em suma, neste sentido falante** que a minha profissão (e vivi assim, sem saber até aos 50 anos...!) - é uma Disciplina, ou uma Ciência muito especifica, e cujo carácter, que é eminentemente prático -, sempre existiu.
Mais, reparem no excerto acima que se foi buscar ao Dicionário de Termos de Arte e Arquitectura***, onde o Nicho é valorizado, mas ficando a faltar-lhe talvez o essencial? Neste caso, concretamente falta dizer que um nicho é a palavra latina para concha. Acrescentando-se que se punha e pôs uma concha, na Arquitectura Paleocristã, para significar que alguém era baptizado. Portanto, que esse alguém era Cristão.
E se vivemos até às «nossas cinco décadas» com tantas ignorâncias, percebe-se assim, talvez, que ambicionemos que muito mais se diga e explique, para que todos nós, aos poucos, possamos ir entendendo melhor esta disciplina que é a Arquitectura. Já que no passado se baseou, na maioria dos casos na Teologia.
Mais:
Sempre que as ideias Teológicas evoluíssem - o que nunca deixou de acontecer -, então também a Arquitectura tinha que evoluir sob pena de ficar (ao nível dos mais antigos conteúdos teológicos, e seus significados) e portanto também ela, a Arquitectura, desactualizada.
Só que hoje, tentar explicar isto, torna-se dificílimo. Sobretudo pelo preconceito, fazendo com que logo, alguém - altamente (in)feliz - venha mencionar supostos secretismos, escondidos. E a obrigarem a que se fale de Maçonaria...? Só que, dizêmo-lo, e é a nossa opinião: Não, não é forçoso!
Para nós thanks God, e a George Hersey - pois foi num extracto do Dictionniare Critique D'Iconographie Occidentale, e a propósito de Ornement, que pudemos perceber (com muito mais clareza) como a Arquitectura, na sua raiz, era falante.
Podendo agora, e a terminar, acrescentar que vários arquitectos de uma família de Colónia, ficaram para a História como os Parler. Sendo o mais conhecido Peter Parler (1330-1399), autor de várias obras da Europa Central, incluindo a Catedral de S. Vito em Praga. Com o link acima, podem ler...
Pois, indubitavelmente, na arquitectura Gótica (tardia) que fizeram, uma das suas principais características, sempre apontada, era a eloquência...
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*Tenho a certeza, o leitor não imagina como cada palavra escrita, e antes cuidadosamente escolhida; como para cada uma dessas palavras existe, mentalmente, uma imagem associada, ou mnemónica, que apetecia inserir neste texto. O que, claramente, não é possível. Mas agora e a título de exemplo, fica aqui o que tenho em mente, quando uso a palavra/adjectivo palatino (que vem de palatium).
E isto porque a palavra Palatino, antes de ser relativo a palácio significava Céu da boca. Ou seja, lembremo-nos que as palavras e os discursos que hoje usamos (e fazemos) - alguns muito baseados naquilo que os povos foram absorvendo do mundo: Já que no passado essas imagens (e as palavras que as designavam) foram referentes, ou, melhor dizendo, a base para a construção de outras realidades. Que surgiriam por associação e por analogias sucessivas; passando depois, eventualmente, a metáforas que se aplicavam a outras realidades.
Acontece que a Arquitectura - desde tempos antigos à actualidade - está repleta destes exemplos como Georges Hersey tão bem explicou: a transição de elementos arquitectónicos (que foram retirados da Arquitectura) para a Filologia - uma ciência da linguística.