Este post hoje, no Dia de Portugal e de Camões, porque há de facto uma comunidade de Língua Portuguesa, que se interessa pelas imagens: todas, inclusivamente as que passaram para a Arquitectura. Pessoas até de outros continentes, que vêm visitar este nosso blog.
Para nós bastante diferente de ter alunos nas aulas, mas ainda assim uma forma de ensinar com o maior prazer, a todos que nos visitaram nos últimos 30 dias, assim distribuído:
- Brasil - 60
- Filipinas - 2
- Espanha - 1
- Itália - 1
- Moçambique - 1
- Peru - 1
- Reino Unido - 1
É uma comunidade que também se interessa - »iconoteologicamente« falando - pelo modo como muitas dessas imagens nasceram. Ou seja, não estamos sós, mesmo que «abandonada» pelos que directamente são (connosco) os mais responsáveis pela situação que vivemos...
Quer pela confiança que logo no início dos nossos estudos depositaram em nós, mas também, pela inerente e suposta confiança no que seriam depois os resultados dos nossos trabalhos.
Só que, aconteceu que as investigações, feitas na perspectiva de Rudolph Arnheim, em que o desenho contém pensamento; olhadas assim (e depois investigadas assim) as imagens da arte e arquitectura, por esse ângulo, levaram-nos a «um rebentar da escala»*.
Surgindo para nós o que é "um imenso paradoxo científico".
Ou, imaginem esse filme, até com diálogo - qual saco de juta (de dimensões monstruosas), que alguém nos tivesse depositado à porta: E agora o que é que faço?
Pelo menos ainda digo thanks God,continuarei a dizer, sobretudo pelo abandono (noutra metáfora) "deste navio, e desta carga preciosa".
Um abandono pelos que deveriam não ficar quietos com o que se passou (e continua a passar), havendo cada vez mais, e mais materiais!

Iconoteologicamente, é o caso da imagem acima, pois este é mais um dos inúmeros quadrifoils significantes, que temos registado e guardado:
Esta imagem foi feita para L'Enseignement des Princes**, uma obra que visava - como é tão óbvio e se compreende - que a educação dos Reis, Príncipes e também a dos Nobres, fosse superior; i. e., feita com a máxima qualidade.
E a imagem escolhida, primeiro confirma-nos a legenda original, que está em francês antigo.
Depois, espera-se que quem por aqui anda - leitores, comentadores, outros bloggers - se lembrem não apenas da influência francesa sobre toda a Cultura Europeia, mas particular e concretamente, de uma das influências regionais, que aconteceu relativamente à Cultura deste extremo Ocidental:
É que o reino de Portugal ainda não existia, mas estando a região ocupada, e acorrendo aos invadidos, vieram Príncipes da Borgonha (França!) - Raimundo e Henrique -, em ajuda de Afonso VI.
Depois, o Imperador da Hispânia ("termo legitimado pelo direito romano", como refere Adeline Rucquoi) - descendente dos povos Romano-Visigodos, - naturalmente grato, deu-lhes, como em geral acontece nas histórias dos príncipes e das princesas, a mão de cada uma das filhas: a de Urraca para Raimundo, e a de Taraja para Henrique.
Só mais tarde é que Henrique «deixa de ser» Príncipe da Borgonha, passando a Conde, como titular do Condado Portucalense.
Também só muito mais tarde é que nasceu em latim e depois traduzido, o De eruditione principum. Como também, foi mais tarde que aconteceu a multiplicação das molduras em quadrifoil, no sentido que supomos teve:
Ou seja, essas molduras explicitavam/falavam sobre o contexto em que a acção decorria.
Narrada em imagens (tipo livro de quadradinhos, mas chamados legendas), o objectivo ou a ideia era a de traduzir um amor especial à Mãe de Deus. Que crescentemente veio a ser, como defendemos, e com o desenvolvimento do Catolicismo, uma protectora da Igreja.
Em conclusão:
As boas acções dos Príncipes, teriam sempre em mente esse contexto moral-religioso - um amor especial à Mãe de Deus
Claro que ninguém fala do quadrifolio como aqui temos registado, e hoje mais uma vez.
Ou, pelo menos por cá, em Portugal não se conhecem autores que vejam por detrás do emprego das imagens, uma certa mentalidade mecanicista: menos abstracta e como necessidade, para ajudar a pensar; uma necessidade de materializações concretas do pensamento, vindas talvez dos povos germânicos***?
Ou ainda, ninguém conta a História desta maneira.
Mas na verdade, se simplificámos muito, não deixa de ser o que é descrito por alguns autores mais antigos.
Através de Alexandre Herculano chega-se à Chronica Gothorum; e de Adeline Rucquoi, por exemplo, a L'Europe, heritière de l'Espagne wisigothique. Madrid, Casa de Vélasquez 1992****.
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*Isto é, à normal dimensão da Investigação de um doutoramento...
**Mais do que um link uma preciosidade que se deixa para os leitores
*** O que questionamos (?), sem responder. Pois falamos de uma mentalidade que parece ter sido altamente mecanicista: como na maratona o atleta precisa transportar um testemunho que passa a outro. Para que essa passagem não seja pouco visível, ou mera especulação; e para não haver dúvidas de que ela aconteceu (materializa-se).
****O que em 2002 deixou perplexos uns certos profs da FL-UL, e quem sabe, também muito furiosos...? Achariam talvez que Alexandre Herculano é um autor dificil, inacessível, que no IIIº milénio já não se lia. Menos ainda para um mestrado?