"Até que a voz me doa"?
Bem, não sei mesmo se vale a pena? Porque, isto faz lembrar o IADE e as aulas de Higiene e Conforto:
Mais de 25-30 anos a alertar para os problemas do ambiente, a poluição e a sustentabilidade... Até que, sempre cada vez mais desgastada ou vista como a completamente démodée pelos colegas (ou pelos novos arrivés - os verdadeiros arrivistas, sem qualquer nível de preocupações, a não ser aquelas que sempre se centraram nos umbigos com que «nasceram»...); enfim, até que, entre cansada e farta de andar a defender aquilo que os políticos em duas penadas, e a qualquer momento contrariavam (dando assim os piores exemplos). Por isso, decidimos passar a fazer coisas bem mais giras. Pois para a sustentabilidade (ou para o seu peditório e um alerta sério que um dia haveria de surgir), nós já tínhamos dado tudo, tudo, ... e mais alguma coisa!
Aliás, a melhor prova dessa nossa imensa dádiva, de décadas (e prova da surdez que nunca ampliou o que era importante destacar) é que só há uns dias vieram falar em "green health and green campus" (ou coisa parecida?). Pobrezinhos, pois enfim lá acordaram, embora já muito em cima da derrocada a que se assiste...
Por isso repetimos, talvez poucas vezes mais, mas ainda desta:
"Uma inteligência perspicaz não ficaria embaraçada por fazer corresponder sinais visíveis às realidades invisíveis".
Frase traduzida por Maurice de Gandillac, da qual talvez se deva dizer que é a frase de um génio? De quem viveu onde hoje é a Síria, no século V-VI, e que tanto veio a influenciar a Cultura Cristã: vinda do Oriente para o Ocidente, colocando-se ao mesmo nível, ou sobrepondo-se, a Santo Agostinho. (O Augustin dos franceses).
Sobretudo, alguém que influenciou, como se sabe (porque há textos escritos), a cultura religiosa da Idade Média, através do Abade Suger. Ou seja, a quem, por sua vez, se atribuem as alterações arquitectónicas mais relevantes feitas em Saint-Denis, Paris (e que depois se estenderam a toda a Arquitectura Gótica).
Mas que, ainda antes da influência sobre esse Abade, como defendemos, os escritos do Pseudo-Dionísio (o Areopagita) tiveram influência sobre o Abade de Saint-Victor. Figura da Universidade de Paris, do início do século XII, que por isso é chamado (ou ficou conhecido) como Hugues de Saint-Victor.
Sim, na "Antiguidade Tardia", ou logo depois no que se designa como a "Alta Idade Média", «eles» - muitos sábios, alguns dos quais se conhecem os seus nomes... - sabiam bem que nos seus pensamentos (e nos seus discursos), podiam construir metáforas, fazer alusões e analogias, para se referirem a Deus. Era aliás uma das melhores maneiras para falar dele e conseguir catequizar.
E também sabiam - porque o discutiram e escreveram -, que as imagens (visuais, directas) seriam mediadoras, utilíssimas, a ajudar nessa tarefa: a do ensino dos que não sabiam ler e que portanto teriam que «absorver» as mensagens e os seus conteúdos de outro modo, que não pela leitura de textos escritos (com os caracteres alfabéticos)...
E isto que estamos a escrever, pode parecer, actualmente, muito estranho! Já que, normalmente, associamos letras do alfabeto, que formam sons, que são palavras. Que passando dos nossos ouvidos ao cérebro, nele fazem «ecoar ideias».
Mas isto mesmo, definitivamente, num tempo em que quase todos sabem ler (os tais textos escritos, com os caracteres vindos do alfabeto romano, do ocidente), agora tornou-se nada fácil de perceber!
No entanto, uma-por-uma, cada uma das ditas imagens lembrava: primeiro uma ideia, e depois outra, e ainda mais outra, que sem som, e como ideogramas, iriam conduzindo por discursos visuais (e talvez mais rápido, e mais directo, do que o fariam as palavras escritas?), neste caso às ideias essenciais do Cristianismo. Porque então as pessoas, muito mais do que agora (?) eram sensíveis às «mensagens figuradas».
E se na imagem do post anterior (colocada de novo, já a seguir) nós vemos como que a figura de uma pomba, derrogada - com a cabeça (como que invertida) e depois as penas da cauda, alongadíssimas, a acompanharem a forma da superfície esférica do tecto.
Uma imagem para ser lida como protectora, superiormente (ou ainda primeiro, como sinalizadora/indicadora); mas depois também, simultaneamente, como sinónima da Concha do baptismo de Cristo no rio Jordão:
Isto é, e resumindo, uma imagem para ser lida como uma fusão ou simbiose da Pomba com a Concha.
Já na imagem seguinte, extraída da página de um livro de Robert Adam:
Consta, e nela conseguimos ver, com toda a toda a clareza, apenas a referida Concha.
Embora, possivelmente - e apesar da palavra Nicho em italiano significar Concha - só estejamos verdadeiramente habituados a um nicho «conchiforme» (e passe o pleonasmo) se o referido Nicho for exactamente como é o que está acima...
Ou seja em d - e com as nervuras a convergirem num ponto cimeiro (o ponto mais alto da calote esférica, i. e., 1/4 de esfera); e não como sucede em f com essas nervuras a convergirem num ponto localizado na base da dita calote esférica.
Em suma, as duas imagens - f e d - evidenciam a diferença que se tentou descrever por palavras (bastando olhar para elas, para ver essas diferenças).
E se no post anterior se referiu o Estilo Paleocristão, que significa primeiro, resta-nos acrescentar (por agora), que os vários desenhos do post de hoje não pararam mais de evoluir.
Pois que, com mais ou menos alteração*, permaneceram com a mesma base, quase até ao fim do século XIX/meados do século XX na Arte que se convencionou designar como ocidental. Cuja base - por não ter havido a distância necessária para se perceber a respectiva origem no cristianismo - muitos ainda continuam a procurar...
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*Exceptuando apenas a presença (legível e não abstracta) da Pomba nos Nichos da Arte e Arquitectura Cristã. E ainda, se escrevemos "legível e não abstracta" é por termos a certeza que a alusão ao Espírito Santo se continuou a fazer, mas sem esse símbolo primitivo (como lhe chamou André Grabar) que é a imagem da Pomba.
É complexo, ou complicado?
Sim! Por isso o dever ser tratado, e estudado, ao nível de doutoramento: em vez de ser sacudido por ignorantes: ou os detentores de graus de doutoramento conseguidos da «farinha ampara»!!