A estrutura e a ruptura da Cultura
http://ruinarte.blogspot.pt/2012/04/estrutura-da-cultura.html
Há quem o perceba, e há quem enterre a cabeça na areia, porque definitivamente (na escola em que estou, no centro de estudos a que pertenço...) não quer que isto se perceba:
“Que cada obra, e em cada obra cada desenho, cada planta, cada alçado - em especial o frontal se incluir um portal (fachada); que cada uma dessas peças, a que hoje se chamam «peças desenhadas», elas são (foram no tempo em que se produziram) o resultado de mapeamentos muito específicos."
Por isso o titulo acima - "A estrutura (…) da Cultura" – está certíssimo!
Porque o conhecimento (da natureza, de Deus, sobre os mecanismos de funcionamento do mundo) que sempre se procurou na natureza e nas suas leis; num Deus de que os homens não se podiam libertar (instantaneamente como sabemos ter acontecido), e a quem permanentemente prestavam culto. E esse culto, fosse o litúrgico em torno do altar, ou o que perpassava do altar para toda a Arca - que era a Ecclesia Matris (isto é a catedral ou igreja).
Esse culto, dizemos (nós), implicava a aposição de inúmeros ideogramas – vários e alguns muito diferentes - tradutores e caracterizadores desse Deus que os homens queriam conhecer melhor.
E é importante registar esta ideia de progressão: uma demanda constante, com o intuito de ir mais longe.
Por isso no século XIX, várias frases de A. W. N. Pugin, de quem sabia como foram criados os ornamentos, e as razões decorativas - por isso serem "motivos" (decorativos), para serem aplicados nas obras.
Pugin estava verdadeiramente imbuído da fé católica a que se tinha convertido e cuja paixão (repleta de emoção) o fez querer recuar a tempos em que Deus era tudo na vida dos homens*. E estando imbuído desses conhecimentos escreveu:
Frase que traduzimos e explicamos (para compreenderem o título do post de hoje):
1. A frase: "Os estilos são agora adoptados, em vez de gerados, e os ornamentos e o design adaptado a, em vez de originado por, os próprios edifícios."
2. A explicação: Há uma espécie de queixume/remoque na afirmação de Pugin: Para ele a arquitectura deixou (ou estava a deixar) de ser criadora de novas formas ornamentais, porque os autores das obras passaram a ir buscar «frases arquitectónicas» inteiras a outras obras. geralmente mais antigas
A estas ideias poderíamos acrescentar outras - vindas de William Morris (e é só lê-lo) - igualmente muitíssimo informativas sobre a génese dos estilos arquitectónicos.
Mas, retomando as ideias que estão em Ruin'arte podemos acrescentar que a Cultura também dificilmente se separa da Ciência: e André Grabar explicou-o neste livro
Obra, mais do que conhecida, por ser essencial para se poderem compreender, hoje, muitas das imagens ainda actualmente empregues**.
Como acontece inclusive nas que estão no nosso post anterior: pois apesar de terem sido coloridas, tracejadas, transformadas, e derrogadas (por nós), ainda a lembrar a "festa do cone iluminado"; na verdade a maior parte daquilo que gerações consecutivas se habituaram a ver nas fachadas, nas ruas das cidades, ou no interior dos melhores edificios, essa Iconografia tinha nascido associada a uma vontade de conhecer o Universo.
Que nos primeiros tempos do Cristianismo também se confundia com Deus. Como o texto seguinte refere (vindo da p.305 do livro acima de A. Grabar)
*Felizmente estamos a ser cada vez mais lidos por pessoas de outros países, o que permite ir ampliando os objectivos do nosso trabalho e dos nossos textos. Pois não faz sentido que muitos se continuem a perguntar, ao seu e ao nosso inconsciente (colectivo) pela origem de imagens que, se muitas delas nunca saberemos de onde vieram, para outras até já temos respostas. Mais do possíveis, muito verosímeis e portanto permanecem silenciadas...
**E sobre isto, nunca esquecerei, no IADE, talvez numa das últimas turmas que leccionei, uma aluna fascinada com os desenhos das grades das varandas. Ainda lhe dei algumas pistas sobre uma génese antiquíssima desses desenhos, mas as pessoas em geral (ela também) estão todas muito mais formatadas para o simples e para o imediato. nada de complexidades excessivas... Ela queria aplicar esses grafismos num qualquer projecto, não tendo a menor ideia da sua proveniência e origem há centenas ou milhares de anos.