Era a pergunta do post anterior, a qual faz sentido continuar a colocar
Claro que as respostas são para os doutos que não somos: e aqui ficam apenas as perguntas, acompanhadas da imagem de colunas torsas, tripartidas, que todos aprendemos a associar ao Manuelino, aos Descobrimentos e às Cordas (cabos de amarração) - que eram equipamentos essenciais das caravelas e outros barcos.
(Imagem vinda de https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c7/SCMS_-_Igreja_de_Jesus._Nave_central_e_Capela-Mor.jpg)
Ora acontece que a questão da substituição, ou a utilização nas composições, de certos elementos muito mais simples para aludir a ideias complexas, isso vem de há milhares de anos. Como aliás escreveu Otto Pächt - a imagem precedeu o texto (os caracteres alfabéticos), e isto não custa a compreender...
E apesar de ter havido (há cerca de 9-10 séculos atrás) quem tivesse escrito o que se segue e já apresentámos noutros posts:
“ … les équipements de géomètres et d’architectes, leur pouvoir de fonder, d’édifier et d’achever et, en général tout ce qui concerne l’élévation spirituelle et la conversion providentielle de leurs subordonnées. Il arrive aussi parfois que les instruments avec lesquels on les représente symbolise [333 C] les jugements de Dieu à l’égard des hommes, les uns représentant les corrections disciplinaires ou les châtiments mérités, les autres le secours divin dans les circonstances difficiles, la fin de la discipline ou le retour à l’ancien bonheur, ou encore le don de nouveaux bienfaits, petits ou grands, sensibles ou intellectuelles. En somme une intelligence perspicace ne saurait être embarrassé pour faire correspondre les signes visibles aux réalités invisibles.”
Ou seja, apesar, do «método de alegorização» acima descrito (ou o da substituição de um discurso directo, por outro indirecto, feito muito à base de analogias), no entanto, houve, e ainda há, «épocas» em que as leituras das obras são mais dirigidas para o que simplesmente se vê. Como na imagem acima, a que nos referimos, e se vêem as «cordas» no papel de elementos de suporte do edifício (como se fossem pilares).
Sabendo que essas leituras não quiseram - ou os seus autores/leitores não estavam habilitados e não eram perspicazes, suficientemente (para) - irem além daquilo que viam; para compreenderem que nas colunas torsas, de base triangular há uma representação metafórica: na qual esteve a vontade de representar Deus, exactamente como suporte da Igreja.
Igreja que podem escrever com maiúscula por ser a instituição, ou com minúscula, por ser, neste caso particular (e já não universal) uma igreja de Setúbal.
É aliás interessantíssimo percorrer quer textos (escritos) quer obras, e ver que muitas referências, ou alegorias, não são para um caso concreto, mas para a Igreja: num sentido universalista. Ou, verdadeiramente universal, que é o que significa, na origem, a palavra católico.
Então, estando «com a ciência» ou tendo presente essa informação que a etimologia da palavra nos dá (i. e., acrescenta); então podemos extrapolar e fazer leituras mais ricas de todas as colunas torsas e tripartidas que foram associadas às cordas dos descobrimentos.
Mas também podemos ir ainda mais longe, percebendo que as cordas, como instrumento auxiliar da navegação; tendo essa forma (e não sendo tecidas em ponto de cadeia como nalguns casos se vê...), por ajudarem a descobrir novas terras que alargavam a oikoumene, provavelmente, as cordas, por este motivo, receberam a forma que se vê*.
E assim, de dedução em dedução, de associação em associação, ou ainda de ampliação em ampliação do sentido das palavras**, então as cordas como instrumento que contribuiu para alargar o mundo conhecido e habitado (há aliás um mapa esquemático da referida oikoumene, que é muitíssimo interessante...) passaram a ser enroladas/entrelaçadas a partir de três elementos.
E quando se entra neste tipo de lógica, em que não sabemos (facilmente) o que existiu primeiro - se o ovo ou a galinha? – é então que nos apercebemos que estamos numa zona (na mente ou na consciência...?) que é a raiz do pensamento:
Onde as palavras e as formas se fundem... (de que Freud escreveu).
Por fim, e sem ser douto doutor, ou já que isto é tão simples - nada tendo a ver com complexidade (e pode dar direito ao grau de doutor, exactamente nas universidades dos recônditos interiores, serranos); por fim lembra-se mais uma vez que nada disto interessa a uma escola de Design!
Menos ainda à que continua a dizer de si própria (tal a arrogância!) que é "a melhor de Portugal"**.
*Não se devendo esquecer que Robert Smith, frequentemente usou a expressão "motivos decorativos" (sem dizer que eram símbolos)
**Processo que também originou a Polissemia (infindável, e cansativa!) que existe na Arte Cristã.
***"D'Àquem e d'Além-Mar em África", acrescentamos nós! Já que ninguém duvida de «tanta qualidade»...