A série Milagres de Ourique (e Milagres Medievais*) ainda não terminou, por isso hoje lembramos os Santos Populares e os seus Tronos, que por esta data proliferam nos arraiais: nos Largos, nas Ruas e também nas montras de todo um país... em festa.
Por aqui fica um Pop-Up dos Santos Populares à maneira de Portalegre**
Este POP UP não ordena os Santos pelas datas de Junho e Julho que são as mais conhecidas (datas em que morreram) mas sim pelas datas - os séculos - em que esses santos viveram. E como se vê no esboço inicial a seguir (e já ficou inscrito a propósito dos nossos estudos dedicados a Monserrate), os estilos foram, muitas vezes, como algo equiparável a Tábuas Cronológicas.
S. João e S. Pedro são do século I. São João nasceu antes de Cristo, e portanto podemos dizer, usando uma expressão da historiografia, ainda na época pagã: veio para anunciar um novo profeta e salvador. Por isso S. João está representado sob uma edícula com a arquitrave típica da arquitectura greco-romana.
S. Pedro (com S. Paulo) fundou a Igreja, tendo sido o primeiro Papa. Assim foi representado num nicho com arco de volta inteira, e dentro deste a concha: atributo que foi uma marca (essencial) dos primeiros baptizados. É uma característica da Arte Paleo-Cristã, mas que a historiografia de Arte hoje não sabe, não explica, nem quer explicar...
Mas se é difícil, ou pouco frequente, hoje depararmo-nos com obras de Arte Paleocristã, já o Barroco é um estilo muito mais comum, por exemplo em Portalegre. E porque nesse período se recuperaram muitas das ideias mais antigas, dos primeiros tempos do cristianismo - como acontece com a talha dourada que nos remete para textos bíblicos e para as descrições de espaços revestidos com o cedro do Líbano (em tons dourados). Em obras barrocas por vezes encontram-se nichos (que são 1/4 de esfera sobre uma superfície cilíndrica), depois preenchidos com nervuras e outras formas que se assemelham às conchas. No que correspondeu ao recriar de imagens do Cristianismo e da Igreja dos tempos originais.
Porém, e porque é preciso avançar, estes temas, num um outro dia, poderão ser mais explicados...
De Sto. António Doutor da Igreja, considerado "santo das causas perdidas", sabe-se que foi contemporâneo do auge do Gótico. Também do tempo em que S. Francisco introduziu o estilo Gótico em Itália.
Sta. Isabel ou a Rainha Santa - a última figura representada no cimo do trono - viveu em data um pouco mais tardia. Está sepultada em Coimbra, em SANTA CLARA (a nova), numa Arca Tumular que é extremamente bonita: cujas paredes laterais - dessa caixa/arca - já têm os arcos (trilobados, influência de S. Tomás de Aquino e de uma nova Teologia - mais aristotélica).
Arcos que são simultaneamente góticos como está na edícula abaixo, e afinal são também o que está em Monserrate.
Mas aí, como explicado noutras ocasiões (e noutros artigos), estão um pouco deformados, pois foram «arabizados»: uma habilidade visual que os arquitectos ingleses James T. Knowles conseguiram concretizar.
Hoje dia de S. Pedro, repare-se que a chave que lhe «demos», assim como o desenho que se fez para o fundo da edícula (apologética) de Santo António, são o mesmo ideograma: quadrilobado*** para significar um amor especial à Virgem (Mãe de Deus).
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*Milagres de Ourique, como foi referido por Marcelo Rebelo de Sousa na sua tomada de posse. Ver posts anteriores.
**Designação nossa porque muitos Tronos feitos pela cidade incluem a Rainha-Santa.
***Nos nossos blogs por vezes também referido como quadrifolio.
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