Muitas imagens da arquitectura foram «iconoteologia». Many images of ancient and traditional architecture were «iconotheological». This blog is to explain its origin.
12.4.16

Ainda na linha do post anterior e da ideia da realeza como sendo sagrada; e também na linha do que captámos relativamente a uma tradição que Constantino inaugurou e outros «Imperadores» foram actualizando. 

Em breves palavras, dir-se-ia que estamos perante novas provas de que a Arte só se compreende entrando bem no âmago da História, e nos seus detalhes, que por vezes são mínimos, mas que apesar dessa dimensão passaram a ser registados em obras visuais**.

Em obras que era normal funcionarem como legendas, pois eram para ser percorridas pelo olhar de quem as lia e delas retirava informações. 

Como se passa no exemplo seguinte, riquíssimo em detalhes informativos. Escolheu-se para ilustrar a questão do design dos escudos, mas tem muito mais pormenores igualmente falantes.

Quiró.jpg

 

(clic para legenda, ou amplie aqui e aqui)

Particularmente interessante é a taça no centro da representação, sobre a mão direita de Justiniano, que parecendo «meio-torta» - já que os bordos deviam formar uma elipse perfeita... - nos faz supor que se pretendeu desenhar uma amêndoa.

E como em geral sucede com as fíbulas, também aqui a do Imperador Justiniano, a apanhar o tecido no ombro, é altamente decorada para ser significante: como se tivesse 3 gemas amendoadas, pendentes. Estas por sua vez agarradas a um círculo, o qual, também por sua vez ... (e continuaríamos)

Por fim, na razão deste post está a relação com Constantino e com a Batalha da Ponte Milvius, que como dizemos pode ter criado toda uma simbologia (e narrativas) que séculos depois eram ainda recontadas ou recriadas para outros protagonistas, também fundadores, como foi Afonso Henriques:

"Segundo os cronistas do século IV Eusébio de Cesareia e Lactâncio, a batalha marcou o começo da conversão de Constantino ao Cristianismo. Eusébio de Cesareia relata que Constantino e seus soldados tiveram uma visão do Deus cristão prometendo-lhes a vitória caso eles exibissem o sinal do Qui-Rô, as duas primeiras letras do nome de Cristo em grego, em seus escudos. O Arco de Constantino, erigido para celebrar esta vitória, atribui em seus relevos e inscrições à intervenção divina."

Infos de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_da_Ponte_M%C3%ADlvia

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*O XP deve-se ler QuiRó, por serem as primeiras letras do nome de Cristo

**Algo que William Morris também se preocupou em explicar

 

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6.4.16

Muitos perguntam-se, e perguntaram-nos pessoalmente entre 2002 e 2005, onde fomos buscar certas ideias e informações.

Uma dessas noções de que pouco ou nada sabíamos antes (e tudo o que em cadeia daí saiu depois),  encontrámo-la em António Filipe Pimentel, no seu estudo dedicado ao Palácio e Convento de Mafra, publicado pela Livros Horizonte.

É um trabalho fantástico, repleto de notas que muito nos influenciou. Leiam!

Mas hoje, em que muita água já nasceu, choveu, correu e chegou ao mar, também as nossas ideias se ampliaram, com apoio de outros autores. É o caso de M.-D. Chenu, que não lemos apenas em Patrick Démouy, mas em obras de Teologia. Informações que dá e mostram bem não só uma transversalidade dos saberes que são precisos percorrer (sem fronteiras), para se poder compreender o mundo em que estamos*, concretamente os seus valores patrimoniais e como as imagens que essas obras (culturais) integram, nasceram, não na natureza, mas na mente humana**.  

Formas que alguns dirão serem abstractas, mas que nós preferimos chamar-lhes ideogramas, imagens de origem conceptual. Formas que segundo Chenu também serviram para "adensar simbolicamente" as obras em que foram incluídas:

Imagens que nem sempre foram simplesmente estampadas - como se fossem letras de textos - mas plasmadas (ou 'built in'): i. e., esculpidas e integradas, também a três dimensões, na arquitectura. 

O que para acontecer - para transformar uma edificação num memorial, monumento histórico, ou numa exaltação da realeza e das suas prerrogativas - obrigou à manipulação dessas mesmas imagens de modo a que, simultaneamente, mantivessem as suas formas significantes (legíveis), e conseguissem, por exemplo, também fazer o suporte das edificações.

Mas ainda, e igualmente a dar outros contributos como: a definir os contornos dessas edificações, a dar forma(s) aos pavimentos que seriam pisados por pessoas de diferentes posições hierárquicas; a dar forma à luz que atravessava os vãos e se projectava em sombras (ou em luz), desenhando repetida e enfaticamente, os mesmos ideogramas, ou as ditas formas conceptuais, tradutoras de Deus. Etc., etc...

Só explicando e ajudando a compreender o passado de que somos herdeiros é que se conseguirá alcançar uma adequada interpretação do que está para trás: um passado que é cada vez mais difícil de entender para as mentalidades de hoje, por muito informadas que as mesmas se suponham. E, mesmo assim, será só em parte (talvez?) que se reconstituem o que foram/são lógicas antiquíssimas:

Como a Unção de David, que depois foi Rei dos Judeus, e durante séculos e séculos influenciou ritos, a liturgia e os seus «equipamentos materiais». Também o design dos espaços onde decorreram esses actos (litúrgicos), como era a Sagração de um Rei.

E claro que um Rei que era sagrado, ou ainda considerado santo - possivelmente de origem divina? -, também era o protagonista, por excelência, dos maiores feitos. Como o vencedor das batalhas que, numericamente, se previam perdidas. Assim acontecendo na batalha de Milvius (com Constantino), em Tolbiac (com Clóvis), em Ourique (com Afonso Henriques)... 

PatrickDemouy-REIMS.png

 

*Ao qual viemos parar, como a água ao Oceano

**É sem qualquer dúvida uma das mais interessantes questões da Arte - a proveniência das formas: De onde vêm? São naturais ou artificiais? E sendo artificiais, como foram originadas? Será uma Kalocagatia?

***Associações que, não é raro ou impossível encontrar. 

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Primaluce: Uma Nova História da Arquitectura
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