Depois de muitas simpatias e uma óptima orientação, ficaram os ditos professores «desorientados» com os nossos resultados.
Pobrezinhos coitaditos, pois achando que todas as mentes são iguais, e tomando-se eles próprios como bitola dos nossos comportamentos, terão achado quiçá que haveria alguma desonestidade nossa!? Talvez poderes mágicos? Mas serão eles tontos?
Portanto, seguiram-se várias (bastantes) antipatias e incorrecções vindas dos ditos profs. doutores dessas Faculdades, onde fui fazer pós-graduações de que afinal, também hoje se verifica, não precisava absolutamente, para ensinar no IADE.
Só que hoje, passados mais de 10 anos, vantagens intelectuais - tirámos imensas. E saber que esses profs. vêm aqui ler algumas das nossas descobertas é um imenso prazer!
Prazer intelectual claro, a prova de que no fim são eles que nos devem muito mais, do que aquilo que nós lhes devemos a eles. Depois, também se compreendem, sem se aprovarem, os seus «desatinos e antipatias» (para não lhes dar outros nomes).
Eles ajudaram-nos a desencadear descobertas, é completamente certo, mas hoje, agora, saber que é ao contrário, que estão a ler textos e materiais que estamos a destacar, é a maior honra pela relevância desses mesmos textos (que nunca descobriríamos, nem poderíamos saber da respectiva existência), e que permitem, por exemplo no caso que a seguir se apresenta, esclarecer sobre como se fazia a composição arquitectónica, e muito concretamente o desenho dos vãos: a que regras e lógicas os mesmos normalmente obedeciam.
Sobretudo foi/é prazer ter podido ler Maurice de Gandillac nas sua traduções do Pseudo-Dionísio, dito o Areopagita. A tal ponto que nos atrevemos - sem qualquer arrependimento (embora algumas palavras possam talvez ser revistas e melhoradas?) - a traduzir directamente do francês para português alguns textos que Maurice de Gandillac, que, com muito mais sabedoria do que a nossa, por sua vez, esse autor traduziu do grego para francês.
Eis então a nossa tradução:
"As vergas indicam o poder real, a soberania, a rectidão com a qual elas [a soberania e a rectidão] levam todas as coisas à sua concretização (...) os equipamentos de geómetras e de arquitectos, o seu poder de fundar, de edificar e de concretizar e, em geral tudo o que se relaciona com a elevação espiritual e a conversão providencial das suas subordinadas. Acontece também por vezes que os instrumentos com os quais se representam simbolizam [333C] os julgamentos de Deus em relação aos homens, uns representando as correcções disciplinares ou os castigos merecidos, os outros a ajuda divina em circunstâncias difíceis, o fim da disciplina ou o regresso à antiga felicidade, ou ainda o dom de novos benefícios, pequenos ou grandes, sensíveis ou intelectuais. Em suma uma inteligência perspicaz não ficaria embaraçada por fazer corresponder os sinais visíveis às realidades invisíveis."
Podendo-se agora comparar com o original de Maurice de Gandillac que já em tempos se tinha trânscrito (que está em: http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/uma-inteligencia-perspicaz-nao-ficaria-69726):
§ 5. – [333 B] “Les verges indiquent le pouvoir royal, la souveraineté, la rectitude avec laquelle elles mènent toutes choses à leur achèvement (…) les équipements de géomètres et d’architectes, leur pouvoir de fonder, d’édifier et d’achever et, en général tout ce qui concerne l’élévation spirituelle et la conversion providentielle de leurs subordonnées. Il arrive aussi parfois que les instruments avec lesquels on les représente symbolise [333 C] les jugements de Dieu à l’égard des hommes, les uns représentant les corrections disciplinaires ou les châtiments mérités, les autres le secours divin dans les circonstances difficiles, la fin de la discipline ou le retour à l’ancien bonheur, ou encore le don de nouveaux bienfaits, petits ou grands, sensibles ou intellectuelles. En somme une intelligence perspicace ne saurait être embarrassé pour faire correspondre les signes visibles aux réalités invisibles.”
Excerto proveniente de Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys L’Aréopagite. Trad. Maurice de Gandillac, Éditions Montaigne, Paris 1943, p. 240.
Então aqui fica, para uns pobres PROFESSORES que todos os dias têm que lidar com as imagens; que chegam ao ponto de teorizar sobre elas, de se fazerem doutores à sua custa, e de lhes chamarem Arte. Mas que, paradoxalmente, não acreditam nem lhes concedem qualquer poder de comunicação. Nem sequer a hipótese de conseguirem transmitir uma qualquer ideia.
E escrevendo esta frase lembramo-nos de A. Damásio, e do que registou sobre a génese de uma ideia. Leiam que faz bem!
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*Referimo-nos mais concretamente ao Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras e ao IADE
VER TAMBÉM: http://primaluce.blogs.sapo.pt/