Muitas imagens da arquitectura foram «iconoteologia». Many images of ancient and traditional architecture were «iconotheological». This blog is to explain its origin.
27.6.14

Repetimos:

 

"Uma inteligência perspicaz não ficaria embaraçada por fazer corresponder sinais visíveis às realidades invisíveis" 

 

Supõe-se que esta frase seja da autoria de quem ficou para a história e é designado Pseudo-Dionísio, o Areopagita.Que, apesar de muitas dúvidas sobre quem poderá ter sido, continua a supor-se, viveu no início do século VI, na região da actual Síria. Era cristão, viveu depois de Santo Agostinho, e é possível estabelecer algumas correspondências entre os dois autores*. De qualquer maneira Santo Agostinho foi do mundo latino, e os textos que vamos citar a seguir, em francês, foram escritos em grego e traduzidos por Maurice Gandillac. O texto acima que hoje escolhemos para título é uma frase do fim da citação, traduzido por nós.

Ele mostra à evidência aquilo que muitos dos que nos rodeiam não têm querido aceitar: isto é, a imensa expressividade, e a tradução de factos e ideias concretas através das formas (por isso) escolhidas para integrar a arquitectura**.

E por isso também muito questionadas, com termos como adequado, conveniente, decoroso e decorativo, por vários autores projectistas do século XIX. Claro que de entre esses se destaca A.W. N. Pugin, e depois todas as sequências que o designado funcionalismo do século XX ainda deu a esses «conceitos» …

Vejam Barry Bergdoll em European Architecture: 1750-1890, em especial Nationalism and Stylistic Debates in Architecture, op. cit., p. 139.

Mas, recuando ainda aos nossos estudos e à tese escrita em 2004, lá estão referências ao Pseudo-Dionísio, Areopagita; e quem eventualmente a tiver lido, terá notado a importância imensa que, logo pudemos perceber, era dada à Geometria (como se fosse a base rigorosa/gramatical de uma língua) para fundamentar as escolhas formais para os elementos arquitectónicos***.  

 

§ 5. – [333 B] “Les verges indiquent le pouvoir royal, la souveraineté, la rectitude avec laquelle elles mènent toutes choses à leur achèvement (…) les équipements de géomètres et d’architectes, leur pouvoir de fonder, d’édifier et d’achever et, en général tout ce qui concerne l’élévation spirituelle et la conversion providentielle de leurs subordonnées. Il arrive aussi parfois  que les instruments avec lesquels on les représente symbolise [333 C] les jugements de Dieu à l’égard des hommes, les uns représentant les corrections disciplinaires ou les châtiments mérités, les autres le secours divin dans les circonstances difficiles, la fin de la discipline ou le retour à l’ancien bonheur, ou encore le don de nouveaux bienfaits, petits ou grands, sensibles ou intellectuelles. En somme une intelligence perspicace ne saurait être embarrassé pour faire correspondre les signes visibles aux réalités invisibles.”      

Excerto proveniente de Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys L’Aréopagite. Trad. Maurice de Gandillac, Éditions Montaigne, Paris 1943, p. 240.

(clic para legenda)

 

E assim se justificam as centenas (ou até mesmo milhares...) de soluções surgidas - quer em micro-arquitecturas, como na Arca Tumular acima; quer em todas as macro-edículas construídas- as quais pretendiam ser significantes. Ouvimos isto várias vezes no IHA da Faculdade de Letras, dito por Vítor Serrão, alguém que poderia ter estado interessado em ir mais além, no conhecimento da Arte e da Arquitectura, usando "...novas noções operacionais..." Mas que se tem limitado, como Horta Correia referiu ao "…panorama ainda muito pobre da historiografia da Arte em Portugal..."

Como tal ainda se pergunta: Será que em vez de pobre aqui o epíteto deveria ser empobrecedor? Uma questão que é da consciência pessoal, moral, científica dos que tomam decisões (por vezes muito redutoras).

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     *http://en.wikipedia.org/wiki/Dionysius_the_Areopagite. Paralelismos, dizemos nós, no contexto neoplatónico do Cristianismo inicial.   

**Questão que se colocou, várias vezes, e exactamente nos mesmos termos em que em 1724 D. João V também perguntou à Academia da História que insígnia devia ser colocada num retrato de seu filho, futuro rei D. José, então ainda Príncipe do Brasil.  

***Ver Glória Azevedo Coutinho, Monserrate uma nova história, Livros Horizonte, Lisboa 2008, pp. 41 e 167, nota nº 89. Ler ainda em: http://portalegrecultural.pt/interpretacoes-e-interaccoes-urbanas-na-cidade-de-portalegre/, expresso deste modo: "Povos que no passado (daí a «vontade de paz» da Igreja contemporânea) não prescindiam de usar distintivos e marcas de pertença às suas comunidades de origem, ou às crenças que os uniam. E tal como é difícil estabelecer analogias entre vários aspectos da mentalidade antiga e a actual, também os sinais com que os povos se marcavam, evoluíram. Por exemplo – e com isto estão-se a abreviar muitas explicações! – essa sinalética distintiva, em trajes e outros adereços (como bandeiras e insígnias militares/heráldicas) passou à arquitectura (...)"

http://primaluce.blogs.sapo.pt/face-ao-panorama-ainda-muito-pobre-da-195448

link do postPor primaluce, às 12:00  comentar

 
Primaluce: Uma Nova História da Arquitectura
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