Por nós, quando em 1976 entrámos para o IADE e nos preparámos para a actividade docente que iríamos passar a exercer, então não só o Design era algo comparável a uma ideologia - como a salvaguarda e preservação do Património, frequentemente também é (hoje); mas, o Design era até considerado salvador, ou mesmo «quase redentor»...
Pode supor-se (nós admitimos que sim) que estas duas «actividades redentoras» terão sido influenciadas e baseadas, provavelmente, nos escritos de Ruskin e Pugin, a que William Morris deu mais força e continuidade?
Embora, em alternativa e complementarmente, também se deva ter em consideração que a Construção sempre foi um tropo (moral/moralizante), daí a existência do adjectivo "Edificante".
Assim, na 2ª metade do século XX, e depois no pós-25.04, observa-se em Portugal, nalguma mentalidade mais lúcida da época**, o reconhecimento de que o Design era essencial: uma base que deveria estar aliada ao desenvolvimento da Indústria. Aliás, provam-no bem as designações das várias Secretarias de Estado do Min. da Economia - se é que alguma vez existiu um Min. da Indústria (de que não nos lembramos?) ...
Mas, como desde então muito mudou - para o péssimo de hoje, actualmente, salvo honrosas excepções de quem conhece e está preparado para «fazer bem» (e acrescentar qualidade em tudo aquilo que faz), em geral fica-se pela rama.
No Design, como se essa fosse a regra, observam-se meros estilismos - completamente superficiais, sem haver qualquer preocupação com a essência das coisas!
Parece-nos que apenas a imagem final, como um invólucro, e embrulho, é a única preocupação e a razão justificadora, do que é (ou pelo menos devia ser, caso funcionasse bem!) um sector amplíssimo, das actividades económicas de um normal país europeu?
Quem explica agora que a imagem de um verdadeiro Design (o de ideólogos) - se houver projecto sério e coerente - é a verdadeira? Enquanto a imagem que é criada pela propaganda é a falsa, e não existe? Porque é, e será sempre, meramente virtual.
Isto é, não materializada e inexistente - já que, se existisse, isso seria um bem verdadeiro; deixando de ser necessário haver a publicidade enganadora.
Quem explica - aos Josés, aos Antónios e Manéis; às Marias, Ritas e Martas, pessoas normais, «simples e descomplicadas», que a verdade pode ser difícil de captar:
Sobretudo quando a Pantomina, apesar de realmente tosca, está demasiado bem montada? Quem lhes mostra que estão a ser enganados?
Se cores berrantes e gritantes já não servem para aviso, como no trânsito?
Se tudo grita minha gente, pois todos os sons e sinais sonoros são audíveis,... Se é assim? Se não distinguem os sons dos avisos? Se não a vêem, que essa onda não vos leve pela calada da noite...
Deseja-se que possam conhecer a Lâmpada da Verdade de John Ruskin - pois sem luz não há visão***!
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*Equívocos de tradução, a lembrar a palavra SAUDADE, que essa é sim muito mais complexa, e de maior dificuldade para explicar e traduzir... Design é:
http://fotos.sapo.pt/g_azevedocoutinho/fotos/quepensardartistasecriadores/?uid=qsuDqijFlL1zRZvcSneo
**É importante conhecer o que consta em alguns estudos sobre os «pioneiros da postura em causa», e que, apesar das imensas vicissitudes, há que reconhecer a visão de A. Quadros. E nesse seu acerto, lembre-se, houve depois uma outra vertente que recordamos bem, pelo entusiasmo com que durante uns meses falava nela. Supomos ter sido grande (ou essencial?) o seu contributo para uma nova visão do valor e importância dessas actividades: na FIL o que foi o primeiro Salão das Indústrias da Cultura (terá sido esta a designação?), teve um grande empenho seu. Porque escrevemos de memória, espera-se que haja registos do que foi, e sobre quem verdadeiramente idealizou esse evento?
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2485/1/ulsd059654_td_Anexos_Victor_Almeida.pdf
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2485/2/ulsd059655_td_Tese_Victor_Almeida
Que não sobrem apenas vagas memórias: http://industrias-culturais.blogspot.pt/