“Porteurs de sens”, como dizem os franceses, ao justificarem a necessidade de haver intérpretes, capazes de explicarem algumas das obras feitas - com elementos que eram significantes. Como foi o caso das Edículas, e portanto das vergas (que davam forma a essas edículas*).
Verga:
"Peça de pedra ou madeira que se coloca atravessada sobre uma porta ou janela. Ver PORTA e JANELA. Viga grande colocada horizontalmente sobre alvenaria, maciços, pilastras e destinada a suportar grandes cargas."
Como podem ver em Verga, particularmente em:
http://www.trabalharcomarquitectos.pt/glossario.
A palavra verga se hoje é pouco usada, no passado era mais empregue e compreendida; como detalhe de um «esquema arquitectónico», e portanto uma das diferenças entre haver ou não haver Arquitectura (aqui considerada, como o foi, um sistema linguístico).
Em geral as Vergas não foram apenas funcionais-estruturais, porque, dada a sua anterioridade funcional – essencial para o suporte de elementos da construção – adquiriram também depois, por isto, uma importância significante**.
Aliás, conhecemos textos antiquíssimos (com bem mais de 12 séculos) onde se refere exactamente, esse valor significante das vergas, relacionado com o seu desenho específico.
Assim, quando a propósito de James Knowles (pai ou filho, ou no atelier que ambos terão tido?) se diz que foram autores de obras Italianates, o que se encontra na Wikipedia é em geral muito bom: porque por um lado amplia os conhecimentos que em geral, aqui em Portugal são mais correntes.
Mas, por outro lado - e face às novas informações com que trabalhamos, baseadas não apenas na nomenclatura actual, mais simplista, mas conhecendo o significado dos Ideogramas usados; por isto, por outro lado é dificil não achar que se pode ir bastante mais longe (do que a historiografia actual tem feito).
É-nos difícil, por exemplo, considerar que um dos casos que a en.wikipedia (https://en.wikipedia.org/wiki/Italianate#Italianate_style_in_England_and_Wales) distingue e apresenta como sendo um Italianate; exemplo descrito nos seguintes termos: "Osborne House, Isle of Wight, England, built between 1845 and 1851. It exhibits three typical Italianate features: a prominently bracketed cornice, towers based on Italian campanili and belvederi, and adjoining arched windows...".
Repete-se: é nos difícil aceitar que não se vá mais longe nas distinções que é necessário saber fazer. Pois sem elas todos somos levados a «pressentir» na imagem da composição (ver a fotografia no site acima) o que nela não consta, totalmente: um valor ou «expressão clássica» (definitiva).
É que, é verdade, não só não consta no texto escrito, como, claramente, a composição inclui ainda imagens que para todos nós são também muito características de obras medievais, incluindo as do Norte da Europa***: como em geral é visto o Estilo Românico (também designado Romanesque). Isto é, o exemplo que é chamado Italianate, inclui detalhes característicos de arquitecturas de uma área muito mais alargada, que não apenas a do Sul da Europa e Península itálica.
Enfim, mais uma vez o assunto é bastante complexo (para olhos «treinados»...), e devia obrigar os Historiadores da Arquitectura a reverem as suas classificações e nomenclaturas: se ainda vale a pena fazer investigação dedicada às formas arquitectónicas do Ocidente Europeu? Se as mesmas ainda se consideram "portadoras de sentidos"?
Porque essas nomenclaturas, como hoje se vê, estão repletas de incompreensões - geradoras de arbitrariedades, que se detectam quando as investigações são mais sistemáticas e perspicazes. Quando sabemos que os historiadores não vêem - por défice de preparação (técnica, apropriada) - as sínteses formais que eram habitualmente feitas:
Como em superfícies limitadas - caso das fachadas dos edifícios, ou por exemplo nalguns tímpanos (onde esse fenómeno é nítido) - era necessário aglutinar/esmagar/deformar algumas imagens, para estarem visíveis, em simultâneo e a par de outras, todas elas igualmente significantes.
As obras Italianates de James Thomas Knowles (pai), como acontece em Monserrate, são lições extraordinárias: mostrando «as amálgamas» que era/é possível produzir: a integrarem, harmoniosamente, inúmeros elementos provenientes da Iconoteologia; ou, juntando-os simplesmente, apesar das dissonâncias que podiam ficar criadas...
Este exemplo londrino de um trabalho Italianate de James Knowles, quando comparado com a obra sintrense - o Palácio de Monserrate - parece contrariar o que antes escrevemos. Porém, é também prova da versatilidade dos referidos arquitectos.
Devendo acrescentar-se que os frontões triangulares que muitas vezes foram empregues na arquitectura cristã (como meios losangos - e portanto como um dos mais importantes sinais do cristianismo), aqui, com os minúsculos modilhões, e sob uma platibanda caracteristicamente clássica, naturalmente que afectam a percepção que temos ao ver este conjunto e os seus detalhes.
O «sabor cássico», e romano, torna-se depois predominante, pelo que se aconselha a comparação com outros vãos do fim do séc. XVIII: De Lisboa - torreões do Terreiro do Paço (e também do Porto, ou por exemplo ainda de Portalegre). Nestas cidades há exemplos de edifícios que facilmente se «filiam» em obras de Vasari, ou até de Miguel Ângelo...
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*Não sendo por demais dizer que lhes davam sentido.
**Uma lógica ou uma "via semântica" - se se pode dizer assim (?), por ser o processo em que um elemento construtivo se tornou «contentor», de um determinado significado: via que a Ogiva também percorreu...
***Em obras anteriores à inclusão, muito enfática, de sinais que hoje sabemos terem sido caracteristicamente germânicos.