Muitas imagens da arquitectura foram «iconoteologia». Many images of ancient and traditional architecture were «iconotheological». This blog is to explain its origin.
30.12.13

“Porteurs de sens”, como dizem os franceses, ao justificarem a necessidade de haver intérpretes, capazes de explicarem algumas das obras feitas - com elementos que eram significantes. Como foi o caso das Edículas, e portanto das vergas (que davam forma a essas edículas*).

 

Verga:

"Peça de pedra ou madeira que se coloca atravessada sobre uma porta ou janela. Ver PORTA e JANELA. Viga grande colocada horizontalmente sobre alvenaria, maciços, pilastras e destinada a suportar grandes cargas."

 

Como podem ver em Verga, particularmente em:

 

http://www.trabalharcomarquitectos.pt/glossario.

 

A palavra verga se hoje é pouco usada, no passado era mais empregue e compreendida; como detalhe de um «esquema arquitectónico», e portanto uma das diferenças entre haver ou não haver Arquitectura (aqui considerada, como o foi, um sistema linguístico).

 

Em geral as Vergas não foram apenas funcionais-estruturais, porque, dada a sua anterioridade funcional – essencial para o suporte de elementos da construção – adquiriram também depois, por isto, uma importância significante**.

 

Aliás, conhecemos textos antiquíssimos (com bem mais de 12 séculos) onde se refere exactamente, esse valor significante das vergas, relacionado com o seu desenho específico.

 

Assim, quando a propósito de James Knowles (pai ou filho, ou no atelier que ambos terão tido?) se diz que foram autores de obras Italianates, o que se encontra na Wikipedia é em geral muito bom: porque por um lado amplia os conhecimentos que em geral, aqui em Portugal são mais correntes.

 

Mas, por outro lado - e face às novas informações com que trabalhamos, baseadas não apenas na nomenclatura actual, mais simplista, mas conhecendo o significado dos Ideogramas usados; por isto, por outro lado é dificil não achar que se pode ir bastante mais longe (do que a historiografia actual tem feito).

 

É-nos difícil, por exemplo, considerar que um dos casos que a en.wikipedia (https://en.wikipedia.org/wiki/Italianate#Italianate_style_in_England_and_Wales) distingue e apresenta como sendo um Italianate; exemplo descrito nos seguintes termos: "Osborne House, Isle of Wight, England, built between 1845 and 1851. It exhibits three typical Italianate features: a prominently bracketed cornice, towers based on Italian campanili and belvederi, and adjoining arched windows...". 

 

Repete-se: é nos difícil aceitar que não se vá mais longe nas distinções que é necessário saber fazer. Pois sem elas todos somos levados a «pressentir» na imagem da composição (ver a fotografia no site acima) o que nela não consta, totalmente: um valor ou «expressão clássica» (definitiva). 

 

É que, é verdade, não só não consta no texto escrito, como, claramente, a composição inclui ainda imagens que para todos nós são também muito características de obras medievais, incluindo as do Norte da Europa***: como em geral é visto o Estilo Românico (também designado Romanesque). Isto é, o exemplo que é chamado Italianate, inclui detalhes característicos de arquitecturas de uma área muito mais alargada, que não apenas a do Sul da Europa e Península itálica.  

 

Enfim, mais uma vez o assunto é bastante complexo (para olhos «treinados»...), e devia obrigar os Historiadores da Arquitectura a reverem as suas classificações e nomenclaturas: se ainda vale a pena fazer investigação dedicada às formas arquitectónicas do Ocidente Europeu? Se as mesmas ainda se consideram "portadoras de sentidos"?

 

Porque essas nomenclaturas, como hoje se vê, estão repletas de incompreensões - geradoras de arbitrariedades, que se detectam quando as investigações são mais sistemáticas e perspicazes. Quando sabemos que os historiadores não vêem - por défice de preparação (técnica, apropriada) - as sínteses formais que eram habitualmente   feitas:

 

Como em superfícies limitadas - caso das fachadas dos edifícios, ou por exemplo nalguns tímpanos (onde esse fenómeno é nítido) - era necessário aglutinar/esmagar/deformar algumas imagens, para estarem visíveis, em simultâneo e a par de outras, todas elas igualmente significantes.

 

As obras Italianates de James Thomas Knowles (pai), como acontece em Monserrate, são lições extraordinárias: mostrando «as amálgamas» que era/é possível produzir: a integrarem, harmoniosamente, inúmeros elementos provenientes da Iconoteologia; ou, juntando-os simplesmente, apesar das dissonâncias que podiam ficar criadas...

 

 

Este exemplo londrino de um trabalho Italianate de James Knowles, quando comparado com a obra sintrense - o Palácio de Monserrate - parece contrariar o que antes escrevemos. Porém, é também prova da versatilidade dos referidos arquitectos.

 

Devendo acrescentar-se que os frontões triangulares que muitas vezes foram empregues na arquitectura cristã (como meios losangos - e portanto como um dos mais importantes sinais do cristianismo), aqui, com os minúsculos modilhões, e sob uma platibanda caracteristicamente clássica, naturalmente que afectam a percepção que temos ao ver este conjunto e os seus detalhes.

 

O «sabor cássico», e romano, torna-se depois predominante, pelo que se aconselha a comparação com outros vãos do fim do séc. XVIII: De Lisboa - torreões do Terreiro do Paço (e também do Porto, ou por exemplo ainda de Portalegre). Nestas cidades há exemplos de edifícios que facilmente se «filiam» em obras de Vasari, ou até de Miguel Ângelo...        

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*Não sendo por demais dizer que lhes davam sentido.

**Uma lógica ou uma "via semântica" - se se pode dizer assim (?), por ser o processo em que um elemento construtivo se tornou «contentor», de um determinado significado: via que a Ogiva também percorreu...

***Em obras anteriores à inclusão, muito enfática, de sinais que hoje sabemos terem sido caracteristicamente germânicos.

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15.12.13

Será que esta imagem pode ser comparada com a do post anterior?


Destacando-se assim o que têm - ou podem ter - em comum, um berço e uma janela?

Será que, «melhor do que nunca antes» nas suas vidas de estudiosos e investigadores os visitantes deste blog podem ser capazes de ver: Um «ver» que significa compreender?

Ou, as evidências continuam-lhes vedadas e invisíveis?

Fará sentido falar da Teologia que directamente desenhou a Iconografia?

Porque razão a mesma «Base-Iconoteológica» em obras tão diferentes?

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9.12.13

A primeira expressão é de José Saramago, embora saibamos que, com imensa facilidade, é dita por outros, distraidamente...

Já a segunda expressão: "Porque o ver muito ensina" de Francisco de Holanda, foi escolhida por Jorge Segurado para epígrafe de um trabalho seu. 

Jorge Segurado, alguém que terá tido, certamente, uma  formação semelhante à nossa (em bastante melhor...), deve também ter percebido que a História da Arquitectura se faz a partir das obras, e não tanto a partir dos registos de baptismo, ou de outros actos que tenham ficado escritos das vidas dos artistas/autores? Talvez por isso a escolha feita (por J. Segurado?), a querer reforçar o maior valor da própria Obra; e a importância da capacidade de a saber ler, directamente? 

É que aqui estamos, como aliás Fernando António Baptista Pereira nos ensinou (tão insistentemente, e aprendemos), muito mais do lado das obras - que foram expressão de um tempo e de um pensamento - do que das histórias das vidas dos seus autores. O que se continua a fazer (até quando?) na historiografia do IHA da Faculdade de Letras. Esquecendo-se que "Os homens passam e as obras ficam".

Ou ainda, protelando o que deveria ser a introdução de novas metodologias de investigação: i. e., feita em equipa. Equipas para as quais os historiadores contribuiriam, sobretudo, com os dados cronológicos e as biografias dos autores. Deixando aos que são mais experientes na compreensão das sínteses operacionais (com frequentes transformações das imagens), a tarefa de as estudar e interpretar.      

Hoje, já que o Natal se anuncia muito antes de o ser: não só "Quando um homem quiser", mas quando os timmings do Comércio o impõem... Hoje deixamos a fotografia de um Obra cuja proveniência, autoria e datas, desconhecemos, totalmente. Mas, apesar de todas estas ignorâncias nossas, a imensa força com que é transmitida a principal mensagem contida na obra - o Credo Católico; essa mensagem impõe-se, deixando maravilhado (e esmagado?) quem souber ler esta obra.

Claramente, muito curioso para ir mais longe: a querer saber quem terá sido o autor de uma síntese tão criativa?

Enfim, quem foi o Artista tão hábil e capaz de transformar o Tema do Presépio - normalmente impregnado de um imenso bucolismo e naturalismo - numa verdadeira Obra de Arte? Onde o Simbolismo impera e é pedra de toque: o elemento essencial, quase a única chave para a compreensão e devida valorização (artística) deste presépio*?

 

Que nos recorda Jean-Claude Schmitt, e o que escreveu sobre: "L'Historien et les Images"**. Chegando depois a citar um outro autor - Jean-Claude Bonne - e as suas ideias sobre “a função do ornamento na Arte Medieval”.

É que melhor confissão da incapacidade dos historiadores para entenderem o que está nas Obras de Arte; ou o que foram, talvez temporariamente, obras feitas de «códigos» (necessários descodificar) para a possibilidade de leitura das imagens; como se sabe confissões assim, feitas com tanta clareza, são difíceis de fazer!  

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*A lembrar a obra de Guarino Guarini de Turim, como se deixou em Monserrate uma nova história.

**Ver em Jean-Claude Schmitt, Le Corps des Images, Gallimard 2002.

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1.12.13

Queiramos ou não (?), como disse José Saramago e há registo disso*, estamos – "Os meus valores e tudo isso..." (foi assim que o disse) – “...estão empapados de Cristianismo”.

A expressão não é bonita, mas talvez também não seja propriamente feia? É uma realidade que todos constatamos, dizendo-o de diferentes maneiras...

Acontece que a partir desta constatação muitas outras mais são dedutíveis.

A UIA – União Internacional dos Arquitectos escolheu, para o ano de 2013, a relação Cultura-Arquitectura.

Naturalmente, quem conhece os propósitos dos blogs em que escrevemos – Primaluce e Iconoteologia – neste ponto já terá compreendido aonde queremos chegar:

À lembrança de que essa fortíssima relação Cultura-Arquitectura tem antecedentes: num tempo em que a humanidade não se concebia a si mesma sem Deus. Assim, a justificação que se pode ler em - http://www.hkia.net/UserFiles/Image/BExA/uia/CP_JMA_2013.pdf - para o aprofundamento e celebração da relação Cultura-Arquitectura, expressa nos seguintes termos:

The ties that bind architecture and culture together are a constant subject of analysis and discussion, probably because both are such vibrant fields in and of themselves.

Claro que a justificação existente na frase - "...ties that bind architecture and culture..." -  está, sem dúvida, a incluir a Cultura. Mas, segundo nos parece, está a faltar-lhe o essencial: aquilo que muitas vezes é considerado diferenciador das várias culturas entre si? Esse algo essencial parece ser a religião (?), e quem escreveu o texto ainda não se apercebeu dessa caracterização, daquilo que talvez falte...

Há-de enconrá-la, se continuar a esforçar-se...?

 
Convento do Carmo, excerto recortado na paisagem vista da Graça
Um Convento para Saramago, e dois Quadrifólios, para dois edifícios lado-a-lado. Quadrifólios que nos lembram outros textos de Saramago, ou algumas das traduções que fez, incluindo a noção de uma "Kalocagatia"

*Em https://blogaiep.wordpress.com/tag/saramago/ pode-se ler: “A razão converte o ceticismo em retórica brilhante, quando contesta a existência de Deus, no lançamento do polêmico Caim, em 2009: “Os meus valores e tudo isso estão empapados de cristianismo. Às vezes dizem-me:  ‘Por que é que você, que é ateu, se preocupa tanto com Deus, ou se ocupa dele tantas vezes?’ Porque Deus está aqui...”

http://primaluce.blogs.sapo.pt/119941.html

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Primaluce: Uma Nova História da Arquitectura
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