Muitas vezes temos aqui referido a Iconografia - baseada na Teologia Cristã - de muitas portas e janelas. No trabalho dedicado a Monserrate um dos casos mais óbvios que incluímos, pela Iconografia empregue, foi o Palácio de Belém. Hoje é habitado por Presidentes da República, e não por Monarcas, para quem a simbologia em causa ainda faria algum sentido: e talvez quando novos, alguns reis e príncipes portugueses a tenham aprendido? Talvez lhes tenha sido ensinada?
Perguntamos, pois o que sabemos é que este tipo de informações, de génese antiquíssima, foi-se perdendo. E por isso em 1724 D. João V questionou a Academia da História para que definisse uma insígnia a pintar num retrato do seu filho (o futuro rei D. José I).
Assim, para muitos as imagens de hoje serão paradoxais? Mas, na verdade - e em consequência de tudo o que nos vimos a aperceber desde 2002 - os materiais iconográficos que estão nas janelas que fotografámos, essas representações Icónicas e Anicónicas; ou, respectivamente, não decorativas e muito decorativas, essas imagens pretenderam representar as mesmas ideias.
Se hoje se fabricam estandartes para colocar nas Varandas, ou Cruzes para pôr em Portas e Janelas (em papel impressas), assinalando as Casas dos Cristãos, este acto é uma mera repetição daquilo que sempre se fez.
Primeiro porque a propósito da Páscoa Judaica, na Bíblia encontra-se uma descrição dessa sinalização a fazer (ver em Ex 12, 1-8*): uma marcação que como se pode constatar nunca se perdeu ao longo do tempo.
Segundo, porque os desenhos ornamentais de muitas portas e janelas, os padrões das grades e outra iconografia (que parece ser apenas decorativa e insignificante), esses desenhos geométricos, de uma forma simbólica ou como resumo, traduziram as mesmas ideias que estão nos estandartes das imagens seguintes.
Essas opções devem ser vistas como actos/opções «antropológicas» - que a Antropologia deveria investigar? Ou são meras «banalidades»? Quase tão inerentes aos humanos quanto aos animais?
É porque de facto verificamos que, mais aos animais do que aos homens, a Natureza lhes deu características (visuais) diferentes. Mas o vestuário, no caso dos Humanos, também teve essa função de diferenciação**.
Assim, na Arquitectura poderá dizer-se que a Ornamentação é equivalente à Paramentação do Sacerdote?
E respondemos: sim, sabemos de vários autores que fazem esta analogia e explicam a ornamentação arquitectónica como uma paramentação***.
Nas imagens que escolhemos, os estandartes, os padrões das guardas das varandas (3ª imagem), ou os pinázios das bandeiras das janelas (na foto acima - 4ª imagem), essa Iconografia teve o mesmo objectivo: afirmar uma Fé específica. E hoje, como no passado, usam-se os mesmos suportes arquitectónicos para fazer essa afirmação.
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*Passagem onde consta no fim (relativamente ao cordeiro ou cabrito que cada família há-de imolar): "Tomarão do seu sangue e pô-lo-ão sobre os dois marcos e a travessa da porta, nas casas em que o comerem."
**No MNAA vejam os Painéis de S. Vicente, tendo em mente o que se tem escrito sobre eles, e as figuras que representam. Aí o vestuário é o principal distintivo dos personagens representados. Todas as especulações da historiografia desta obra foram feitas exactamente a partir das roupagens e adereços das figuras.
***Será por isto, na raiz, que frequentemente alguns troços de parede são designados paramentos? No dicionário consta que vem do latim "paramentu"...
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