O Tratado que originou a Arquitectura Medieval é uma Síntese Pluritemática: a junção de várias alegorias, e de um grande número de Ideias (essenciais) que a Igreja queria ser e representar
É verdade, referimo-nos ao Tratado que originou a Arquitectura Religiosa da Idade Média; mais concretamente o que se pode designar como Românico-Protogótico.
Uma ideia que é nossa, como desde já se avisa.
Note-se - para todos os que permanentemente precisam de citar uma qualquer fonte que sustente aquilo que afirmam - que no nosso caso, e para esta situação em particular, essa fonte não existe. É uma dedução nossa, resultante de tudo o que lemos e investigámos.
Sabemos que há quem esteja lá perto (alguns autores), ou quem se refira a uma maquette quando lê certas passagens dos De archa Noe.
Mas que, por desconhecimento ou outras razões que ignoramos, até agora não há (que o saibamos) um estudioso ou um autor que venha dizer que a arquitectura medieval - e concretamente a da Igreja da época Gótica - se fez numa determinada direcção, porque alicerçada nesta ou naquela «Teoria», que a tenha prescrito... *
Sim, é isto que faz um projecto: «prescrever» ou funcionar como um Guião - que define previamente uma obra a executar. E só quem está do lado de fora, das acções e das actividades relacionadas com a execução (para o futuro) das obras de construção, é que não compreende que uma obra possa ser executada a partir de uns (muito) poucos elementos desenhados, definidores dessa mesma obra.
Note-se que só hoje** - i. e., na actualidade mais recente - é que as edificações são objecto de um aturadíssimo e muito minucioso processo de previsão (e até de uma vizualização prévia, bidimensional, os renderings) da realidade que se pretende vir a criar.
Por nós lembramo-nos bem de tempos em que para se licenciarem pequenas obras bastava apresentar uma (só) Planta e a respectiva Memória Descritiva.
Por outro lado, no Verão de 2002 pudemos percorrer todo um arquivo de desenhos e motivos para Estucadores (da Oficina Baganha, no MNSR no Porto), que nos permitiu ter a certeza da persistência de processos de trabalho não muito diferentes dos que se empregaram em tempos medievais. Isto é, os motivos aplicavam-se seguindo regras, como por exemplo colocados em sancas, em faixas no tecto ou nas paredes, e ainda no centro do próprio tecto; sem que fosse necessário, ou que existissem outras medidas relativas (e os desenhos que as indicassem) aos distanciamentos entre os vários elementos definidores do espaço.
Nesses tempos que nós vivemos e recordamos tratavam-se de obras feitas no joelho? Nem tanto, mas comandavam-se muito, e frequentemente, a partir de visitas ao local da obra. Onde, de vez em quando, havia que recolher informações, para as trabalhar em Atelier, e voltando-se à obra mais tarde e com instruções mais precisas. Na época medieval muitos Mestres seriam Residentes no local e no Estaleiro da obra, como supomos.
Os desenhos que se seguem provêm do 2º vol dos De archa Noe, conhecido como De Arca Mystica. São apenas um excerto da imagem e das ideias que estiveram por detrás das ogivas. Cujo objectivo era o de constituírem Faixas de Pedra, muito visíveis (formando desenhos nos tectos, sob as abóbadas) e em que cada uma das pedras que os constituíam - cada uma por si - era como um patamar ou um degrau numa ascensão (mística) em direcção a Deus. Augere é subir para atingir o céu, o ponto mais alto: o Auge. E sobre esta origem de Ogiva na Etimologia, lembrem-se as imensas confusões, que são HISTÓRICAS, à volta da designação deste elemento que para a maioria é estrutural!
Estamos perante peças que eram muito mais importantes para serem vistas e lidas - claramente para serem contempladas - do que como elementos de suporte***.
(clicar sobre as imagens, para ampliar e ler o que escrevemos sobre elas. Tal como a imagem do passado dia 15 de Out. provém de - Anexos desenhados in HVGONIS DE SANCTO VICTORE, De ARCHA NOE, LIBELLVS DE FORMATIONE ARCHE, cura et studio Patricii Sicard, Turnhout,Brepols Publishers, 2001.)
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*Há apenas ideias soltas, muitas perguntas sobre as Origens do Gótico, sem que os estudiosos compreendam a multiplicidade de Ideias (ou a Polissemia) que a Igreja Gótica reúne/sintetiza.
**Este hoje, tem a ver como facto de estarmos a pensar no enorme número de peças desenhadas que na actualidade configuram uma obra a realizar. Num próximo post podemos vir a apresentar aqui, fotografias de modelos reduzidos que estiveram na base de edificações do período renascentista. Maquettes que foram feitas com o objectivo de funcionarem como elementos de projecto, e que, provavelmente, substituíam a enorme quantidade de desenhos que actualmente se fazem.
*** Uma longa história de polissemias, que também explica as dificuldades que temos para escrever a tese. Em que não só o tema é dificil, como cada nova informação exige toda uma série de explicações sobre os antecedentes de uma lógica antiga; sobre Geometria, sobre Teologia, sobre Etimologia... etc.
Enfim, tudo o que as instituições FLUL, FBAUL e IADE não quiseram saber nem colaborar para ser possível acabar a referida Tese. Nestas instituições os responsáveis sabem, melhor que ninguém as razões para tudo terem feito para inviabilizar os nossos estudos.
NOTA FINAL:
Sabemos que um assunto deste nível merece um tratamento à altura, já que se trata de uma enorme novidade para os meios científicos! Mesmo que esses entendam exigir e procurar muitas provas relativas à veracidade das informações que damos. À partida, claro que não nos parece que um blog seja o meio mais adequado para estas apresentações; mas, também nos parece muito menos adequado (talvez inclassificável até?) o Comportamento Científico de quem deveria estar aberto à novidade, com vontade de a divulgar; ao correcto conhecimento do passado, para o aprofundar e para depois dar a conhecer.
Estamos disponíveis para dar os esclarecimentos que nos pedirem sobre o assunto, continuando a insistir na informação de que esta ideia é nossa. E como tal temos materiais para continuar a investigar até ao fim da nossa vida.