Ou, digamo-lo de outra maneira: uma visão apurada, capaz de discernir medidas exactas, os centros geométricos de diferentes curvas, diferenciar ovais de elipses, etc., etc...
A ideia do título, a de ter réguas nos olhos, é uma noção nossa, e habitualmente divertimo-nos com ela.
Sobretudo quando os alunos vãos para as aulas sem material, e nos cabe chamar-lhes a atenção relativamente às medidas (por vezes erradas e sem escala...), que desenharam em espessuras de paredes, dimensões de portas, etc, de equipamentos excessivamente grandes ou mínimos...
Nas fases de aprendizagem erros não faltam, mas são normais, é assim que se aprende! Haja tempo, para fazer os erros que são muito normais, e depois a sua correcção!
Ora, deduz-se, também terá sido com o tempo e com o hábito, que Miguel Ângelo passou «a ter um compasso» na visão, para as imagens que analisava.
Foi numa tradução de Artistic Theory in Italy, 1450-1600*, de Anthony Blunt que encontrámos a informação seguinte, relativa ao autor (ou quem decidiu a forma final) da Basílica de S. Pedro em Roma.
Primeiro é-se informado que Miguel Ângelo rompeu com as ideias dos primeiros Humanistas; por exemplo os métodos matemáticos de Alberti e Leonardo, aparecendo-nos depois esta citação (tradução do inglês para português do Brasil): "Lomazzo registra um dito seu, segundo o qual 'todos os raciocínios da geometria e da aritmética, e de todas as provas da perspectiva eram inúteis sem o olho'35, e Vasari lhe atribui um outro, segundo o qual 'era necessário ter o compasso no olho, não na mão, porque as mãos trabalham e o olho julga'36."**
Gostaríamos que os nossos alunos um dia também adquirissem réguas e compassos nos olhos: seria um óptimo sinal:
Não apenas de que aprenderam, mas sinal de que as vidas profissionais para as quais os treinámos, puderam continuar e adquirir um enorme treino de visão. Algo que não tem só a ver com a Geometria, mas com toda a informação que a Geometria e a Imagem podem representar: Iconologicamente.
*Quando procurávamos informações sobre os processos de trabalho de Michelangelo. Explorando como nos seus trabalhos a Teologia gerou Iconografia.
** Ver em Anthony Frederick Blunt, Teoria Artistica em Itália, 1450-1600, Cosac e Naify Edições, S. Paulo 2001, p. 103. Note-se que a obra original de Blunt é de 1940.